O Conde de Monte Cristo - Cap. 85: A viagem Pág. 814 / 1080

Resultado: o Sr. Procurador Régio tomou o caso tanto a peito que, ao que parece, despertou no mais alto grau o interesse do prefeito da Polícia, e graças a esse interesse, pelo qual não posso estar mais reconhecido, há quinze dias que me mandam cá todos os bandidos que existem em Paris e nos arredores, a pretexto de serem os assassinos do Sr. Caderousse. Assim, se isto continua, dentro de três meses não haverá um ladrão nem um assassino, neste belo reino de França, que não conheça a planta da minha casa na ponta da unha. Estou pois resolvido a abandonar-lha por completo e ir para tão longe quanto a Terra mo permita. Venha comigo, visconde, quer?

- Com muito prazer.

- Então, está combinado?

- Está. Mas para onde vai?

- Já lhe disse: para onde o ar é puro, o ruído entorpece e, por mais orgulhoso que se seja, um homem se sente humilde e insignificante. Aprecio essa humildade, eu, que dizem senhor do universo, como Augusto.

- Mas para onde vai, finalmente?

- Para o mar, visconde, para o mar. Sou um marinheiro, fique sabendo. Logo em criança fui embalado nos braços do velho Oceano e no colo da bela Anfitrite. Brinquei com o manto verde de um e a túnica cerúlea da outra. Gosto do mar como se gosta de uma amante, e quando estou muito tempo sem o ver sinto a sua falta.

- Então vamos, conde, vamos!

- Para o mar?

- Sim.

- Aceita?

- Aceito.

- Nesse caso, visconde, haverá esta tarde um brisca de viagem em que uma pessoa se pode deitar como na sua cama. Esse brisca estará atrelado a quatro cavalos de posta. Sr. Beauchamp, cabem lá quatro facilmente. Quer vir connosco? Eu levo-o!

- Obrigado, mas venho do mar.

- Como, o senhor vem do mar?!

- Sim, ou pouco mais ou menos. Acabo de fazer uma viagenzinha às ilhas Borromeias.

- Que tem isso? Venha sempre - insistiu também Albert.

- Não, meu caro Morcerf. Deve compreender que desde o momento que recuso é porque é impossível. Aliás, é importante - acrescentou, baixando a voz - que eu fique em Paris, quanto mais não seja para vigiar a caixa do jornal.

- Você é um bom e excelente amigo - disse Albert. - Sim, tem razão, observe, vigie, Beauchamp, e procure descobrir o inimigo a quem se deve essa revelação.

Albert e Beauchamp separaram-se. O seu último aperto de mão encerrava todos os sentimentos que os seus lábios não podiam exprimir diante de um estranho.

- Excelente rapaz, esse Beauchamp! - exclamou Monte-Cristo, depois de o jornalista sair. - Não é verdade, Albert?

- Oh, sim, um homem de coração, garanto-lhe! Por isso o estimo com toda a minha alma. Mas agora que estamos sós, embora isso me seja quase indiferente aonde vamos?





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069