- A sua filha?! - exclamou Avrigny, fulminado de dor e surpresa.
- Como vê, estava enganado - murmurou o magistrado. - Venha vê-la e peça-lhe perdão no seu leito de dor por ter desconfiado dela.
- Todas as vezes que me chamou era demasiado tarde - observou o Sr. de Avrigny. - Mas não importa, vamos. No entanto, apressemo-nos, senhor, pois com os inimigos que atacam em sua casa não há tempo a perder.
- Oh, desta vez, doutor, não me censurará mais a minha fraqueza! Desta vez saberei quem é o assassino e castigá-lo-ei
- Tentemos salvar a vitima antes de pensarmos em a vingar - redarguiu Avrigny. - Venha.
E o cabriolé que trouxera Villefort levou-o a galope, acompanhado de Avrigny, no preciso instante em que pela sua parte Morrel batia à porta de Monte-Cristo.
O conde estava no seu gabinete e lia, muito preocupado, um bilhete que Bertuccio acabava de lhe enviar à pressa.
Ao ouvir anunciar Morrel, que o deixara havia apenas duas horas, o conde levantou a cabeça.
Tinham decerto acontecido muitas coisas naquelas duas horas, pois o jovem que o deixara de sorriso nos lábios trazia o rosto transtornado.
O conde levantou-se e foi ao encontro de Morrel.
- Que aconteceu, Maximilien? - perguntou-lhe. - Está pálido e tem a testa coberta de suor...
Morrel mais se deixou cair do que se sentou numa poltrona.
- Sim, vim depressa porque necessitava de lhe falar - disse por mim.
- Estão todos bem na sua família? - perguntou o conde, num tom de interesse afectuoso, cuja sinceridade não enganaria ninguém.
- Obrigado, conde, obrigado - respondeu o rapaz, visivelmente embaraçado para começar a conversa. - Sim, na minha família estão todos bem.
- Tanto melhor. No entanto, tem alguma coisa a dizer-me? - insistiu o conde, cada vez mais inquieto.
- Tenho - respondeu Morrel. - A verdade é que acabo de sair de uma casa onde a morte acabava de entrar e só tive tempo decorrer para aqui.
- Vem portanto de casa do Sr. de Morcerf? - perguntou Monte-Cristo.
- Não - respondeu Morrel. - Morreu alguém em casa do Sr. de Morcerf?
- O general acaba de se suicidar - respondeu Monte-Cristo.
- Oh, que horrível desgraça! - exclamou Maximilien.
- Mas não para a condessa nem para Albert - observou Monte-Cristo. - Mais vale um pai e um marido mortos do que um pai e um marido desonrados. Sangue lava a desonra.
- Pobre condessa! - disse Maximilien. - É ela quem mais lamento. Uma mulher tão nobre!
- Lamente também Albert, Maximilien, porque, acredite, é digno filho da condessa. Mas voltemos ao que o traz por cá. Correu para aqui, disse-me. Terei a sorte de precisar de mim?