O Conde de Monte Cristo - Cap. 13: Os Cem Dias Pág. 91 / 1080

- Não faço a mais pequena ideia, o que não impede que esteja inteiramente à sua disposição para lhe ser agradável, se for coisa que esteja na minha mão.

- A coisa depende inteiramente de si, senhor - disse Morrel.

- Explique-se então.

- Senhor - continuou o armador, recuperando a presença de espírito à medida que falava e sentindo-se fortalecido pela justiça da sua causa e pela clareza da sua posição -, deve lembrar-se de que dias antes de se saber do desembarque de Sua Majestade, o imperador, vim solicitar a sua indulgência para um pobre rapaz, um marinheiro, imediato a bordo do meu brigue.

Era acusado, como se deve recordar, de relações com a ilha de Elba.

Ora essas relações, que nessa época eram um crime, são hoje títulos de favor. O senhor servia então Luís XVIII e não o poupou; era o seu dever. Hoje serve Napoleão e deve protegê-lo; é também o seu dever. Venho, pois, perguntar-lhe que é feito dele.

Villefort fez um violento esforço sobre si mesmo.

- O nome desse homem? - perguntou. - Tenha a bondade de medizer o seu nome.

- Edmond Dantès.

Evidentemente Villefort gostaria tanto de enfrentar, num duelo, o fogo do seu adversário a vinte e cinco passos como de ouvir pronunciar assim aquele nome à queima-roupa. Contudo, nem sequer pestanejou.

«Desta forma não poderão acusar-me de ter feito da prisão desse rapaz uma questão puramente pessoal», disse Villefort paraconsigo mesmo.

- Dantès? - repetiu. - Edmond Dantès, diz o senhor?

- Sim, senhor.

Villefort abriu então um volumoso registo colocado numa estante próxima, consultou um mapa, do mapa passou a uma pilha de processos e por fim, virando-se para o armador, perguntou-lhe com ar mais natural deste mundo:

- Tem a certeza de não estar enganado, senhor?

Se Morrel fosse um homem mais arguto ou estivesse melhor esclarecido acerca do caso, teria achado estranho que o substituto do procurador régio se dignasse responder-lhe sobre matéria completamente estranha às suas atribuições, e teria perguntado a si mesmo por que motivo Villefort o não remetia para os registos de presos, para os governadores de prisão ou para o perfeito do departamento. Mas Morrel, procurando em vão o temor em Villefort, não viu mais, desde o momento em que todo o temor parecia ausente, do que a condescendência. Villefort estava bem senhor de si.

- Não, senhor - respondeu Morrel -, não estou enganado.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069