O Conde de Monte Cristo - Cap. 97: A estrada da Bélgica Pág. 914 / 1080

Despachemo-nos, a mala!

- Espera - pediu Louise, indo escutar à porta da Sr.ª Danglars.

- Que receias?

- Que nos surpreendam.

- A porta está fechada.

- Que nos mandem abri-la.

- Pois que mandem; não a abriremos!

- És uma autêntica amazona, Eugénie!

E as duas jovens começaram com prodigiosa actividade, a meter numa mala todos os objectos de viagem de que julgavam necessitar.

- Agora - disse Eugénie -, enquanto mudo de roupa, fecha a mala.

Louise carregou com toda a força das suas mãozinhas brancas na tampa da mala.

- Não posso! - exclamou. - Não tenho força suficiente. Fecha-a tu.

- Ah, tens razão! - redarguiu Eugénie, rindo. - Já me esquecia de que sou Hércules e tu apenas a pálida Ônfale.

E a jovem apoiou o joelho na mala e retesou os braços brancos e musculosos até os dois compartimentos da mala se juntarem e Mademoiselle de Armilly enfiar o cadeado.

Terminada esta operação, Eugénie abriu uma cómoda de que tinha a chave e tirou uma manta de viagem de seda acolchoada.

- Toma - disse. - Como vês, pensei em tudo. Com esta manta não terás frio.

- E tu?

- Oh, eu nunca tenho frio, bem sabes! De resto, vestida de homem...

- Vais-te vestir aqui?

- Claro.

- E terás tempo?

- Não tenhas medo, poltrona! Todo o pessoal está ocupado com o grande escândalo. Aliás, que tem de extraordinário, quando se pensa no desespero em que devo estar, que me tenha fechado?

- Nada, é verdade. Tranquilizas-me.

- Anda, vem ajudar-me.

E da mesma gaveta donde tirara a manta que acabava de dar a Mademoiselle de Armilly e que esta já pusera pelos ombros, tirou um fato de homem completo, desde as botinas até à sobrecasaca, bem como uma provisão de roupa branca, onde não havia nada de supérfluo, mas onde se encontrava o necessário.

Então, com um desembaraço indicativo de que não era decerto a primeira vez que, por brincadeira, vestia as roupas do outro sexo, Eugénie calçou as botinas, vestiu as calças, deu o laço na gravata, abotoou até ao pescoço o colete alto e envergou uma sobrecasaca que lhe desenhava a cintura fina e arqueada.

- Oh, estás muito bem! Sinceramente, estás muito bem! - exclamou Louise, olhando-a com admiração. - Mas esses belos cabelos negros, essas tranças magníficas que faziam suspirar de inveja todas as mulheres, caberão num chapéu de homem como esse que vejo aí?

- Já vais ver - respondeu Eugénie.

E agarrando com a mão esquerda a trança grossa, na qual os seus longos dedos mal conseguiam fechar-se, pegou com a mão direita numa grande tesoura, e em breve o aço rangeu no meio da rica e esplêndida cabeleira, que caiu inteirinha aos pés da rapariga, inclinada para trás para não deixar cabelos na sobrecasaca.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069