O Conde de Monte Cristo - Cap. 98: A estalagem do sino e da garrafa Pág. 926 / 1080

- Andrea, o assassino! - gritou uma das raparigas.

- Eugénie! Mademoiselle Danglars! - murmurou Cavalcanti, passando do terror ao espanto.

- Socorro! Socorro! - gritou Mademoiselle de Armilly, tirando a campainha das mãos inertes de Eugénie e tocando ainda com mais força do que a companheira.

- Salvem-me, perseguem-me! - suplicou Andrea juntando as mãos. - Por piedade, por compaixão, não me entreguem!

- É demasiado tarde, ouço subir - respondeu Eugénie.

- Então escondam-me em qualquer parte e digam que se assustaram sem motivo. Desviarão as suspeitas e salvar-me-ão avida.

As duas mulheres, agarradas uma à outra envoltas na roupa da cama, ficaram mudas àquela voz suplicante. Todas as apreensões, todas as repugnâncias se entrechocavam no seu espírito!

- Está bem, seja! - acedeu Eugénie. - Volte pelo caminho por onde veio, desgraçado. Parta e não diremos nada.

- Cá está ele! Cá está ele! - gritou uma voz no patamar. - Cá está ele, estou a vê-lo! Com efeito, o cabo colara um olho à fechadura e vira Andrea de pé e suplicante.

Uma violenta coronhada fez saltar a fechadura e mais duas fizeram saltar o ferrolho. A porta, quebrada, caiu para dentro.

Andrea correu para a outra porta, a que deitava para a galeria do pátio, abriu-a e preparou-se para saltar.

Mas os dois gendarmes estavam lá com as suas carabinas e levaram-nas à cara.

Andrea parou bruscamente. De pé, pálido, com o corpo um pouco inclinado para trás, segurava a navalha, agora inútil, na mão crispada.

- Fuja! - gritou Mademoiselle de Armilly, no coração da qual entrava a piedade à medida que o terror saía. - Fuja!

- Ou mate-se! - acrescentou Eugénie no tom e na atitude de uma daquelas vestais que no circo ordenavam com o polegar, ao gladiador vitorioso, que acabasse com o seu adversário vencido.

Andrea estremeceu e fitou a jovem com um sorriso de desprezo, demonstrativo de que a sua corrupção não compreendia aquela sublime ferocidade da honra.

- Matar-me! - exclamou, largando a navalha. - Para quê?

- Mas você mesmo disse que o condenarão à morte e o executarão como o último dos criminosos! - gritou Mademoiselle Danglars.

- Ora!... - replicou Cavalcanti, cruzando os braços. - Tenho amigos...

O cabo avançou para ele de sabre em punho.

- Pronto, pronto, meu caro, meta lá isso na bainha! - disse Cavalcanti. - Não vale a pena tanto espalhafato, uma vez que me rendo...

E estendeu as mãos para as algemas.

As duas jovens assistiam com terror àquela horrível metamorfose que se operava diante dos seus olhos: a de um homem de sociedade que se despojava do seu invólucro e voltava à sua condição de forçado.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069