A Queda de um Anjo - Cap. 18: Capítulo 18 Pág. 102 / 207

É pasmoso, Sr. presidente, que os dois doutores, protestando pela legitimidade do seu rei, um no livro, outro no discurso, refiram a sanguinária história do saca-rolhas nos intestinos da deplorável galinha! Eu suei quando ouvi este canibalismo, suei de aflição, Sr. presidente, figurando-me o desgosto da ave!

Protesto, Sr. presidente, protesto contra a suja aleivosia cuspida na sombra de um príncipe ausente, indefeso e respeitável como todos os desgraçados. Que história vilã é esta? Quem contou ao Sr. Dr. Aires o caso infando do saca-rolhas nas tripas da galinha?! Em que soalheiro de antigos lacaios de Queluz ou Alfeite ouviram os refundidores da justiça estas anedotas hediondas, e mais torpes no esqualor de recontá-las?

E, depois, Sr. presidente, que me diz V. Exa. e a Câmara àquele filho da rainha da Grã-Bretanha, que é um rapinante: uma pega humana! Que musa de tamancos! uma pega humana! Que imagem! que alegoria tão ignóbil, e extractada do vocabulário da ralé!…

Em desconto destas repugnantes notícias, fez-nos o Sr. doutor o bom serviço de nos dizer que homem em latim é vir, e mulher é mulier, e que, em alguns casos, homo também é homem. Ficamos inteirados e agradecidos. Uma lição de linguagens latinas para nos advertir que a lei não legisla para a mulher!… Teremos ainda de assistir à repetição do concílio em que havemos de averiguar se a mulher é da espécie humana? Se os srs. drs. Aires ou Libório, alguma vez, dirigirem os negócios judiciários e eclesiásticos em Portugal, receio que os legisladores excluam a mulher das penas codificadas, e que os bispos lusitanos as excluam da espécie humana!…





Os capítulos deste livro