A Queda de um Anjo - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 55 / 207

O Sr. doutor, a meu juízo, é sujeito de grande imaginativa. Bonita coisa é idear fabulações em academia de poetas; porém, nesta casa, onde a Nação nos manda depurar a verdade dos falaciosos ornatos com que a mentira se arreia, mister é que sejamos sinceros. Já o insigne autor dos Apólogos Dialogais disse que a imaginação era curral do conselho, onde, por não ter portas, todo o animal tinha entrada. Bom é também que os moços muito imaginativos se não pavoneiem até ao filaucioso sobrecenho de passarem alvará de sandeus à gente que raciocina mais porque imagina menos. É permitido aos versistas poetarem em prosa; mas as liberdades poéticas não ajustam bem nos debates circunspectos da res publica.

Vou concluir, Sr. presidente, votando contra o projecto do ilustre colega, que propôs a redução dos direitos aduaneiros das sedas, e pedido ao Sr. Dr. Libório, que, se outra vez me der a honra de embicar com este pobre homem lá das montanhas da raia, haja por bem de se expressar em linguagem rasa e correntia. Não sou homem de salvas e rodeios; digo as coisas à moda velha. Quero-me português com os do sujeito, verbo e caso no seu competente lugar. E, se assim não for, ir-me-ei com aquelas palavras que ouviu Arsénio: Fuge, quiesce et tace; «foge, sossega e não fales».

Sentou-se Calisto Elói. Alguns deputados anciãos do partido liberal foram cumprimentá-lo; e outros, que se pejaram de imitar os velhos, encararam no rústico provinciano com cortesia e tal qual veneração.





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