A Queda de um Anjo - Cap. 18: Capítulo 18 Pág. 98 / 207

O presidente: — Sem ofensa de particulares.

O orador: — Autoriza-me, portanto, V. Exa. a crer que nesta casa está Iscariotas, e o bispo Julião, e Miguel de Vasconcelos, e…

Vozes: — À ordem!

O orador: — Pois então eu calo-me, se ofendo estes personagens a quem me não apresentaram, ainda bem! As minhas intenções são inofensivas; no entanto, desconsola-me a camaradagem. Se eu soubesse que estava aqui similhante gente, não vinha cá, palavra de homem de bem!

O Dr. Libório: — Mais prestimoso fora ao cosmos, se o Sr. Calisto estanceasse no agro do seu covil a lidar com a fereza dos javalis.

O orador: — Não percebi o dito bordalengo; faça favor de explicar-se.

O Dr. Libório: — Já disse que não desço.

O orador: — Se não desce, cairá de mais alto. Refiro a V. Exa. a fábula da águia e do cágado, na linguagem lídima e chã de D. Francisco Manuel de Melo. É o Relógio da Aldeia, que fala no diálogo dos Relógios Falantes: «…Lembra-me agora o que vi suceder a um cágado com uma águia, lá em certa lagoa da minha aldeia: veio a águia e de repente o levantou nas unhas, não com pequena inveja das rãs, e de outros cágados, que o viam ir subindo, vendo-se eles ficar tão inferiores ao seu parceiro. Julgavam por grã fortuna que um animal tão para pouco fosse assim sublimado à vista de seus iguais. Quando nisto, eis que vemos que, retirada a águia com sua presa a uma serra, não fazia mais que levantar o triste animal, e deixá-lo cair nas pedras vivas até que quebrando-lhe as conchas com que se defendia…» Não me lembra bem se D. Francisco Manuel diz que a águia lhe comeu o miolo.





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