Se o sibilino colega figura na moralidade deste conto, oferece-se-me cuidar que não é a águia.
(Pausa do orador: riso das galerias).
Sabido, pois, Sr. presidente, que as citações históricas fazem repugnâncias ao Regimento e à ordem, abjuro e exorcizo os demónios íncubos e súcubos da história, pelo que rogo a V. Exa. muito rogado que me descoime de desordeiro.
Direi de Quintiliano, se este nome não desconcerta a ordem. Trata-se de oradores, e de estilos viciosos. Diz este mestre dos retóricos que «há um natural prazer em escutar qualquer que fala, ainda que seja um pedante, e daqui aqueles círculos que a cada hora vemos nas praças à roda dos charlatães». Nesta nossa idade, Quintiliano redivivo diria: «nas praças e nos parlamentos».
Vozes: — À ordem!
O orador: — Pois também Quintiliano?!
Bem me quer parecer que raríssimas vezes o admitem aqui a ele!…
O presidente: — Lembro ao nobre deputado que a Câmara não é obra de retórica.
O orador: — Assim devo presumi-lo, vendo que todos a professam com dignidade, exceptuado eu, que me não desdoiro em confessar que sou o discípulo único e mau de tantos mestres. Eu direi a V. Exa. qual eloquência considero necessária nesta casa da Nação: é a eloquência que a Nação entenda. A arte de bem falar, ars bene dicendi, é o estudo da clareza no exprimir a ideia. Os afectos, as galas da linguagem, que lhe tolhem o mostrar-se e dar-se a conhecer dos rudos, não é arte, é tramóia, não é luz, é escuridão.