Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 18: XVIII - A Infamada Pág. 104 / 174

Depois de jantar, reuniu os amigos, e completou as instruções a seguir sobre a segura arrecadação da sua “fortuna”, alienação fraudulenta de quintas, casas e navios, tudo incontinente para antecipar-se à tentativa de divórcio com a separação do casal, a requerimento de sua mulher. Ao anoitecer, meteu-se em carruagem, e foi para S. Roque da Lameira, ou para a Cruz da Regateira: não liquidamos com certeza em qual das paragens pernoitou. O sabido é que uma das frescassas moças de Barrosas o seguiu para o Porto, no dia seguinte por noite, e tomou as rédeas do governo da casa do brasileiro, e achou bonitas as cortinas do leito nupcial de Ângela, quando pela manhã um raio de sol, através das rendas, aureolava a cabeça de Hermenegildo, contornada no braço trigueiro dela.

E, quinze dias depois, o brasileiro, chorado e lamentado dos amigos, embarcava em um dos seus navios, aproando às praias de Santa Cruz, onde, dizia ele, ia esconder a sua vergonha, associando à sua angústia a franduna rapagoa, Rosa Catraia, que se lhe encostava ao coração, enjoada com o balanço da galera!

A colônia de brasileiros portuenses longo tempo chorou a sorte dura de Fialho. Ali, na Praça-nova e no Jardim de S. Lázaro, se apinhavam os magotes daquele gentio a escoucear na honra de Ângela. Enquanto uns diziam que ela passara a abarregar-se com o incógnito amante, outros asseveravam ter exatas informações de que a tal fidalga da Cascos-de-rôlhas cedo poria em almoeda a sua beleza. E os homens honestos do Porto jungiam-se na maledicência com a vara de javardos que retoiçavam e foçavam na infâmia uns dos outros. E sobre aquela gente chovia, e chove Deus toda casta de prosperidades! E a providência ter-lhe-á dado quanto tem e pode no dia em que enviar sobre ela uma nova chuva.





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