Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 20: XX - O Doente e o doutor Pág. 117 / 174

Agora posso pagá-la; e a vossa senhoria, que diz ter sido roubado por sua esposa, é a quem de direito me cumpre pagar. Falta a indicação das testemunhas. Permita-me que eu chame três dos seus vizinhos, aos quais o Sr. Fialho lerá esta quitação, e perante os quais me fará a mercê de assinar, contada a quantia que deixo para ser examinada.

- Mas explique-me isto! - bradava o enfermo.

- Está explicado, senhor!

- Então minha mulher estava inocente? Porque o não disse ela? Porque não contou ela a história que o doutor me contou agora?

- Não sei. Confiaria pouco na sua generosidade, senhor. Seria surpreendida de modo que não pudesse justificar-se. Enfim, não sei, nem posso demorar-me. Vou chamar as testemunhas.

- Mas eu não quero este dinheiro! - clamou Hermenegildo.

- Rasgue as notas depois de ter assinado o recibo.

E desceu precipitadamente as escadas, subindo-as logo com as três testemunhas.

Fialho não pode ler a quitação, de inquieta e aflita que se lhe espojava a alma, como enojada do corpo. Costa pediu a uma das testemunhas que lesse e a outra que contasse as notas. Depois, chegou a pena ao doente, que assinou com a mão convulsa.

As testemunhas saíram.

- Se vê que eu morro - tartamudeou Hermenegildo - diga-mo, que quero fazer testamento, e deixar alguma coisa a minha mulher, se ela ainda for viva.

- Não sei se morre, Sr. Fialho. Ângela de Noronha, se vive, não aceitará a sua herança...

- Por quê? Então não há de aceitar?

- Ângela de Noronha, se viver, terá metade do meu pão. O que D. Ângela aceitaria de seu marido está aqui... É este papel que a salvará da infâmia que o senhor lhe associou à pobreza, para que o mundo nem misericórdia houvesse dela. Se a infeliz tiver caído à última desonra, Sr. Fialho, em tal caso eu irei ainda procurá-la de abismo em abismo, e dizer-lhe que fiz o que pude em desafronta do seu nome.





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