Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 24: XXIV - A Opinião pública Pág. 139 / 174

Convencidos de que o cego de vinte anos voltara a ver os filhos que deixara no berço, o doutor avultou-lhes como entre milagroso, ali mandado pela Senhora da Saúde, adorada com muita fé na sua igreja.

Alargou-se a área da clínica do facultativo a seis e mais léguas em redor, por caminhos precipitosos à orla de despenhadeiros.

Mas o inverno chegou.

Os pegões do vento outonal abateram quando as neves de novembro começaram a coroar os espinhaços das serras, e a sobrepor as suas camadas endurecidas pelo gear das noites, sobre as veredas de cabras que ligavam uma aldeia a outra. Sem impedimento dos rogos de sua família, Francisco Costa ia sempre que era chamado. E, quando transpunha as raias do concelho, a visitar doentes, em noite tempestuosa, por os mesmos caminhos já famigerados na vida de fr. Bartolomeu dos Mártires, e recebia duzentos e quarenta réis de recompensa, Francisco depunha no regaço da esposa o seu bem suado ou bem tiritado óbolo, e dizia a sorrir:

- É o dinheiro de dois operários: tanto labutou o lavrador para o tirar da terra, como eu para lho arrancar do cantinho da arca. Se eu lhe pedisse mais, o doente preferia a morte.

O que muito supria na sua receita era a arte operatória, exercitada longe, mormente as operações de catarata, que já tinham levado seu nome ao território espanhol.

Então aconteceu, duas vezes, no primeiro ano, Francisco Costa entesourar na caixa econômica de sua mulher uma dúzia de peças, com esta recomendação dita em gracejo:

- Vai guardando o património do nosso primeiro filho.

Ângela estremeceu da felicidade que já lhe estremecia no seio adiantados sinais de maternidade.

- E o nosso filho que será neste mundo? Que destino lhe hás de dar? - perguntou a filha do general Noronha.





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