- Visto que não é provável ser ele o vigésimo senhor do paço de Gondar - respondeu a rir Francisco Costa - será artista.
- Artista!...
- Artífice é mais português. Terá uma profissão que lhe abaste à sua subsistência e à de uma família criada com pouquíssimas necessidades. Não aprenderá a ler, para crer; não saberá nada da ciência humana para entender bem o Padre Nosso, que é a ciência divina baixada até ao homem; dormirá o sono pesado do operário para não sonhar as quimeras que me fizeram a mim o motor dos teus longos infortúnios, meu pobre anjo!
- Mas hoje, filho!... - atalhou ela. - Não estou eu esquecida de tudo!... A compensação não é tão superior ao que padeci? Se Deus me der filhas, a felicidade que eu peço para elas é esta minha...
- Mas padeceste muito, Ângela... E as tuas filhas poderão ser felizes como tu sem terem padecido... - E concluiu, acariciando-a: - É preciso que elas não saibam ler Sonhos nem escrever Esperanças...