Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 27: XXVII - Vem rompendo a luz Pág. 152 / 174

- Que tinha o conde? - perguntou Ângela.

- É cego, filha.

- Oh, coitado! E cura-se?

- Cura.

- Deus o permita. Vais operá-lo?

- Vem ele aqui operar-se.

- Às Boticas?

- A nossa casa.

- O conde vem para aqui!... Ai que casa esta!...

- Não te disse que ele é cego, menina?

- E que quarto lhe dás?

- O nosso.

- Então seja o meu - disse Joana.

- O nosso é melhor - tornou Francisco. - Cedes o teu quarto ao conde, Ângela?

- Pois sim, meu amor. Ele que homem é?

- Tem setenta anos.

- Tão velhinho! E vais operá-lo?

- Vou.

- De onde é ele?

- Veio de Ponte do Lima.

- De Ponte do Lima? De que família?

- Dos Noronhas Barbosas.

- Então é meu parente.

- É; é muito teu parente; é teu pai.

- Meu pai?!... Estás brincando, Francisco?

- O cego conde de Gondar que vem para tua casa é teu pai, Ângela: é o general Simão de Noronha.

- E ele sabe?... - exclamou Ângela, ofegante. - ele sabe...

- Para onde vem? Não nem quero que saiba depois que estiver cá. Desde que ele entrar, tu perdes o teu nome, e chamas-te?... como hás de chamar-te? Maria. Se sentires expansões de filha, hás de reprimi-las. pede-to o teu plebeu, o filho do sacristão honradíssimo que amou seus filhos com ternura, e se apartou deles prometendo-lhes vigiá-los do céu. O conde de Gondar aqui dentro é um doente que se trata. De comum entre nós há apenas operado e operador. Tu és a esposa de um, e a filha repulsa e abandonada do outro. Que te diz o coração, Ângela?

- Que ele é meu pai... e mais desgraçado que eu...

- Pois compadece-te, ama-o, mas não me impeças o restituir-lhe a vista. Quando ele te vir, há de ser tarde; mas podes vê-lo e falar-lhe contanto que imediatamente à operação, e mudados os apósitos, ele te não veja.

- Mas, logo que me veja, é provável que me reconheça.





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