O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 7: CAPÍTULO VI Pág. 32 / 245

Aproximámo-nos da janela, examinámos detidamente o papel em que estava escrita a declaração do suicida.

- A letra é dele, parece-me indubitável que é - disse o mascarado - mas na verdade, não sei porque, não lhe acho a feição usual da sua escrita!

Observou-se o papel escrupulosamente; era meia folha de escrever cartas. Notei logo no alto da página a impressão muito apagada, muito indistinta, de uma firma e de uma coroa, que devia ter estado gravada na outra meia folha. Era portanto papel marcado. Fiz notar esta circunstância ao mascarado: ele ficou surpreendido e confuso. No quarto não havia papel, nem tinteiro, nem penas. A declaração pois tinha sido escrita e preparada fora.

- Eu conheço o papel de que ele usava em casa, disse o mascarado; não é deste; não tinha firma, não tinha coroa. Não podia usar doutro.

A impressão da marca não era bastante distinta para que se percebesse qual fosse a firma e qual a coroa. Ficava, porém, claro que a declaração não tinha sido escrita nem em casa dele, onde não havia daquele papel, nem naquele quarto, onde não havia papel algum, nem tinteiro, nem um livro, um buvard, um lápis.

Teria sido escrita fora, na rua, ao acaso? Em casa dalguém? Não, porque ele não tinha em Lisboa, nem relações íntimas, nem conhecimento de pessoas cujo papel fosse marcado com coroa.

Teria sido feita numa loja de papel? Não, porque o papel que se vende vulgarmente nas lojas não tem coroas.

Seria a declaração escrita nalguma meia folha branca tirada de uma velha carta recebida? Não parecia também natural, porque o papel estava dobrado ao meio e não tinha os vincos que dá o envelope.

Demais a folha tinha um aroma de pós de marechala, o mesmo que se sentia, suavemente embebido no ar do quarto em que estávamos.





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