Calafrio - Cap. 21: Capítulo 21 Pág. 130 / 164

— Não me diga que não está a vê-la? Quer dizer que não a vê? É tão grande como uma fogueira! Por favor, minha amiga, olhe para ela! — A mulher fez-me a vontade e, ao ouvi-la soltar um gemido onde à repulsa se misturava a compaixão, senti que Mrs. Grose, se lhe tivesse sido possível, por certo me teria apoiado. E eu bem que estava a necessitar de apoio, já que o facto de saber que ela tinha os olhos irremediavelmente selados fizera-me sentir que o mundo se desmoronava a meus pés. Do outro lado do lago, o rosto lívido da minha antecessora parecia deleitar-se com a minha derrota. Por fim, tendo em conta a atitude da pequena Flora, sem dúvida que ficara numa situação difícil. Como que para confirmar as minhas suspeitas, Mrs. Grose tomou imediatamente o partido da garota, dando-lhe todo o seu apoio.

— Ela não está aqui, menina. Não está aqui ninguém senão nós, minha querida! E como é que a pobre Miss Jessel aqui poderia aparecer se está morta e enterrada? Nós sabemos o que se passou, não é verdade, querida? — E, ao falar, a mulher voltara-se para a garota. — Tudo isto não passa de um terrível engano e de uma brincadeira de mau gosto. E agora está na hora de irmos para casa!

A garota respondeu àquilo com uma estranha e rápida afectação de decoro, e, com Mrs. Grose a seus pés, elas estavam de novo unidos contra mim. Flora continuava a fitar-me com a sua expressão de repulsa e, nesse mesmo instante, pedi a Deus que me perdoasse, pois, ao vê-la agarrada ao vestido da minha amiga, senti que a sua incomparável beleza infantil se desvanecera sem deixar rasto. Como já disse atrás, o seu rosto apresentava uma expressão de tal forma dura que as suas feições me pareceram vulgares, quase feias.





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