Calafrio - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 18 / 164

Bastaram aquelas palavras para que, com uma daquelas reviravoltas de humor tão características das pessoas simples, a mulher de pronto reagisse:

— O menino Miles?! Um mau exemplo? Ele?!

Aquelas palavras estavam de tal forma carregadas de sinceridade, que, embora ainda não tivesse visto a criança, os meus medos se desvaneceram perante semelhante absurdo. E assim, sarcastica, acrescentei, quase no mesmo instante:

— Um mau exemplo para os seus pobres companheiros inocentes!

— É demasiado terrível dizer coisas assim tão cruéis! — exclamou Mrs. Grose. —Pois se o coitadinho ainda mal fez dez anos!

— Sim, sim. De facto, seria um absurdo.

Semelhante profissão de fé pareceu deixá-la satisfeita.

— A menina primeiro tem de o corlhecer. Depois já me dirá se acredita nessas coisas! — Voltei a sentir-me impaciente perante a perspectiva de o conhecer, e, com o passar das horas, esta curiosidade agravou-se tanto que acabou por assumir contornos dolorosos. Podia ver perfeitamente que Mrs. Grose estava consciente do efeito produzido pelas suas palavras, aproveitando o facto para me devolver a confiança perdida. — Imagine que alguém se atrevia a dizer o mesmo a respeito da menina! Que Deus a abençoe. — E, quase no mesmo instante, acrescentou: — Olhe só para ela!

Dei meia volta e deparei com Flora, a quem, dez minutos antes, deixara na sala de aulas com uma folha de papel em branco, um lápis e a tarefa de copiar uma série de «O's» muito redondos.





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