Um Caso Tenebroso - Cap. 12: XII - UM DUPLO E MESMO AMOR Pág. 130 / 249

Toda a gente foi autorizada a abraçar os seus novos amos.

Durante os sete meses de reclusão a que tinham estado condenados os quatro jovens, algumas vezes praticaram a imprudência, aliás necessária, de darem os seus passeios, vigiados, de longe, por Michu, o filho e Gothard. No decurso destas deambulações, à luz do luar, Laurence, associando ao presente o passado da sua vida comum, sentira ser-lhe impossível escolher entre os dois irmãos. Um mesmo amor igual e puro pelos dois gémeos lhe partilhava o coração. Era como se tivesse dois corações. Pelo seu lado, os dois Paul os não tinham ousado falar entre si da sua iminente rivalidade. Possivelmente todos três se haviam entregado já ao destino. A situação de espírito em que se encontrava influiu, sem dúvida, em Laurence, pois a verdade é que, após um momento de hesitação visível, deu o braço aos dois irmãos para entrar no salão, seguida do Senhor e da Senhora de Hauteserre, que não paravam de interrogar os seus filhos, de quem se haviam apoderado. Nesse momento, toda a gente gritou:

- Vivam os Cinq-Cygne e os Simeuse!

Laurence voltou-se, no meio dos dois irmãos, e com um aceno encantador agradeceu.

Quando aquelas nove pessoas se observaram bem - pois, em toda a sorte de reuniões desta espécie, mesmo na maior intimidade da família, um momento surge em que, após uma longa separação, todos se põem a observar-se uns aos outros - o primeiro olhar que Adriano Hauteserre relanceou a Laurence, e que logo for surpreendido pela mãe e pelo abade Goujet, afigurou-se-lhes a estes um olhar de amor. Adriano, o mais novo dos Hauteserre tinha uma alma terna e doce. Nele o coração permanecera adolescente, apesar das catástrofes que o homem experimentara. Muito parecido nisso a tantos outros, militares, em quem a continuidade do perigo deixa a alma virgem, sentia-se opresso pela bela timidez da juventude.





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