Calçavam botas à Suvorov, moldadas ao pé, calções justos, de pele branca, jaquetas de caça, verdes, com botões de metal, gravatas pretas e luvas de gamo.
Estes dois jovens, então com trinta e um anos, eram, como naquele tempo se dizia, dois encantadores cavaleiros. De estatura média, mas bem proporcionados, tinham olhos vivos, orlados de longas pestanas, que pareciam nadar num fluido como o das pupilas das crianças, cabelos pretos, bonitas frontes e a tez de uma brancura olivácea. O seu falar, macio como o das mulheres, derramava-se-lhes, graciosamente, dos belos lábios vermelhos. Os seus modos, mais elegantes e polidos que os dos gentis-homens da província, denunciavam que o conhecimento dos homens e das coisas lhes dera essa - segunda educação, muito mais preciosa ainda que a primeira, e que torna os homens perfeitos. Graças a Michu, como nunca lhes faltara o dinheiro durante a emigração, fora-lhes dado viajar e haviam recebido carinhoso acolhimento nas cortes estrangeiras que frequentaram. O velho gentil-homem e o abade acharam-nos um pouco altivos; mas, atenta a sua situação, talvez se tratasse de expressão de um carácter excepcional. Possuidores das eminentes pequenas coisas próprias de uma educação, cuidada, eram de uma superior destreza em todos os seus exercícios corporais. A única coisa que podia distingui-los um do outro eram as ideias. Era tão simpático o mais novo na sua jovialidade como ó mais velho na sua melancolia; no entanto, este contraste, puramente moral, só depois de longa intimidade saltava aos olhos.
- Ah! Minha filha - disse Michu ao ouvido de Marta -, como não havia uma pessoa de dedicar-se a estes dois rapazes?
Marta, que admirava, como mulher e como mãe, os dois gémeos, teve um lindo assentimento de cabeça para o marido, apertando-lhe muito a mão.