Um Caso Tenebroso - Cap. 2: II – PROJECTO DE UM CRIME Pág. 22 / 249

Este carácter é coisa corrente entre os aldeãos. De momento, a sua grande preocupação era conseguir de Malin a prorrogação do arrendamento da sua quinta, o qual expirava dentro de seis anos. Invejoso da riqueza do administrador, vigiava-o de perto; a gente da região guerreava-o, pelas suas relações com os Michu; mas, na esperança de ver o arrendamento prorrogado por mais doze anos, o manhoso lavrador espiava a primeira ocasião em que pudesse prestar serviço ao governo ou a Malin, que não tinha confiança em Michu.

Violette, ajudado pelo guarda particular de Gondreville, pelo guarda campestre e, por um que outro desses homens que andam à lenha, mantinha o comissário de polícia de Arcis informado do mais pequeno gesto de Michu. Esse funcionário tentara, debalde, conquistar Mariana, a criada de Michu, para a causa do governo; mas Violette e os seus agentes sabiam tudo através de Gaucher o criadito em cuja fidelidade Michu confiava, e que afinal o atraiçoava por frioleiras (coletes brincos, meias de algodão, lambarices). De resto, o garoto nem de longe suspeitava quanto eram importantes as suas linguarices. Violette enegrecia tudo quanto Michu fazia, e emprestava sentido criminoso a todos os seus actos, com as mais absurdas suspeitas, sem que o administrador se desse conta de tal, embora não ignorasse o papel ignóbil que o rendeiro desempenhava junto de si e se entretivesse a ludibriá-lo.

- Muito tem você a fazer em Ballache, que já o temos outra vez! - disse Michu.

- Outra vez! Está a censurar-me, Senhor Michu... Espero que não queira assobiar aos pardais com semelhante flauta, hem? Nunca lhe tinha visto essa carabina...

- Cresceu para aí numa das minhas terras, que costumam dar carabinas, - replicou Michu. – Repare, é assim que eu as semeio.





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