As pernas, envoltas em grevas de pano branco, que lhe subiam até aos joelhos, pendiam-lhe da montada, sem estribos, amparadas dir-se-ia pelo peso dos grossos sapatões ferrados. Por cima da veste de pano azul, trazia uma limusina às riscas pretas e brancas. Os cabelos grisalhos encaracolavam-se-lhe pendentes no pescoço. Aquele trajo, o potro pardo de pernitas curtas, a maneira como Violette se ajeitava na sela, o ventre para diante, o alto do tronco para trás, a mão, gretada e de cor térrea, fincada numa rédea corroída e esfrangalhada, tudo isso era como que o retrato de um camponês avaro, ambicioso, que só quer terras e, que as compra por qualquer preço. A boca de beiços azulados, rasgada como se fosse obra de um cirurgião que lha tivesse aberto a bisturi a rede de rugas que lhe sulcavam o rosto e a testa tolhiam-lhe o jogo da fisionomia, de que só os contornos falavam. Aqueles traços duros, parados, pareciam traduzir uma ameaça, não obstante o ar humilde de que se revestem quase todos os aldeãos, ar esse sob o qual escondem as suas emoções e os seus cálculos, tal como os Orientais e os selvagens ocultam os deles sob uma imperturbável gravidade.
De simples cavador de enxada que anda à jorna, o arrendatário de Grouage, graças a um sistema de maldade crescente, mesmo agora, depois de conquistar uma posição que ultrapassava os seus primeiros desejos, não mudara em coisa alguma. Só queria o mal do próximo e ardentemente o desejava. Quando para isso podia concorrer, fazia-o e com paixão. Violette era aquilo a que se chama um invejoso; mas, nas suas patifarias, nunca saía dos limites da legalidade, tal qual a oposição parlamentar. Parecia convencido de que a sua riqueza dependia da miséria dos outros, e que todos os que estavam acima dele eram inimigos para com quem todos os meios seriam bons.