Um Caso Tenebroso - Cap. 6: VI - FISIONOMIAS REALISTAS NO TEMPO DO CONSULADO Pág. 63 / 249

- Eu - exclamou ela - eu tinha conseguido! Pois não temos nós o direito - disse para o abade Goujet, ao notar a profunda estupefacção que a sua frase produzira em todas aquelas máscaras - de atacar a usurpação por todos os meios ao nosso alcance?

- Minha filha - respondeu-lhe o abade Goujet - a Igreja foi muito e muito atacada e censurada pelos filósofos por haver outrora sustentado ser legítimo empregar contra os usurpadores as armas que os usurpadores haviam usado para triunfar; mas hoje a Igreja deve demasiado ao Senhor Primeiro Cônsul para o não proteger e garantir contra esta máxima, aliás da responsabilidade dos jesuítas.

- Com que então a Igreja abandona-nos! -respondera ela tristemente.

Desde então, sempre que os quatro velhos falavam em submeter-se à Providência, a jovem condessa retirava-se do salão.

De algum tempo para cá o cura, mais hábil que o tutor, em vez de discutir os princípios, fazia sobressair as vantagens materiais do governo consular, não tanto para converter a condessa como para lhe surpreender nos olhos expressões que o pudessem esclarecer sobre os seus projectos. As ausências de Gothard, as repetidas saídas de Laurence e a sua preocupação, que, naqueles últimos dias, lhe aflorou claramente ao rosto, enfim: uma série de pequenas coisas que não podiam passar despercebidas no silêncio e na tranquilidade da vida em Cinq-Cygne, sobretudo aos olhos inquietos dos Hauteserre, do abade Goujet e dos Durieu, tudo despertara o receio daqueles realistas pacificados. Mas como não se verificava coisa alguma e a calma mais completa reinava na esfera política havia já alguns dias, a vida do pequeno castelo voltara a ser remansosa. Todos tinham acabado por atribuir as saídas da condessa à sua paixão pela caça.





Os capítulos deste livro