A Sr.ª de Villefort experimentou o que deve experimentar a cotovia quando vê o milhafre apertar por cima da sua cabeça os seus círculos mortais.
Um som rouco, quebrado, que não era nem um grito nem um suspiro, escapou-se do peito da Sr.ª de Villefort, que empalideceu até à lividez.
- Senhor, não... não compreendo...
E como se tinha levantado num paroxismo de terror, num segundo paroxismo, mais forte sem dúvida do que o primeiro, deixou-se cair novamente no sofá.
- Perguntei-lhe - continuou Villefort em voz perfeitamente calma - em que sítio escondia o veneno com que matou o meu sogro, Sr. de Saint-Méran, a minha sogra, Barrois e a minha filha, Valentine.
- Meu Deus, que diz o senhor?! - gritou a Sr.ª de Villefort, juntando as mãos.
- Não lhe cabe interrogar-me, mas sim responder.
- Ao marido ou ao juiz? - balbuciou a Sr.ª de Villefort.
- Ao juiz, minha senhora! Ao juiz!
Era um espectáculo medonho ver a palidez da mulher, a angustiado seu olhar, a tremura de todo o seu corpo.
- Senhor!... - murmurou. - Ah, senhor!... - foi tudo quanto disse.
- Não me respondeu, senhora! - gritou o terrível inquiridor.
Depois, acrescentou, com um sorriso ainda mais assustador do que a sua cólera:
- É verdade, pois nem se atreve a negá-lo!
A mulher esboçou um gesto. Villefort prosseguiu, estendendo a mão para ela como se a fosse prender em nome da justiça:
- Nem poderia negá-lo! A senhora cometeu esses vários crimes com impudente habilidade, mas que só poderia enganar as pessoas dispostas, devido à sua afeição, a deixarem-se cegar a seu respeito. Desde a morte da Sr.ª de Saint-Méran que sabia existir um envenenador em minha casa; o Sr. de Avrigny avisara-me. Depois da morte de Barrois - Deus me perdoe! - as minhas suspeitas incidiram sobre alguém, sobre um anjo! As minhas suspeitas, que, mesmo quando não existe crime, estão constantemente despertas no fundo do meu coração. Mas depois da morte de Valentine deixei de ter dúvidas, minha senhora, e não fui só eu que deixei de as ter, o mesmo aconteceu com outras pessoas. Assim o seu crime, agora conhecido por duas pessoas e suspeitado por diversas, vai tornar-se público; e como lhe dizia há pouco, minha senhora, já não é um marido que lhe fala, é um juiz! A jovem senhora escondeu o rosto nas mãos.
- Oh, senhor, suplico-lhe que não acredite nas aparências!... - balbuciou.
- Será cobarde? - perguntou Villefort em tom de desprezo. - Com efeito, sempre notei que os envenenadores eram cobardes. Será cobarde, a senhora que teve a horrível coragem de ver expirar diante de si dois velhos e uma jovem, assassinados por si?