O Conde de Monte Cristo - Cap. 108: O juiz Pág. 1008 / 1080

- Não! Não! - vociferou. - Não, o senhor não pode querer isso!

- O que não quero, senhora, é que morra num cadafalso, entende? - redarguiu Villefort.

- Oh, senhor, perdão!

- O que quero é que seja feita justiça. Estou no mundo para castigar, senhora - acrescentou ele com um olhar chamejante. A qualquer outra mulher, ainda que fosse uma rainha, mandá-la-ia ao carrasco; mas consigo serei misericordioso. A si digo-lhe: «não é verdade, minha senhora, que guardou algumas gotas do seu veneno mais suave, mais rápido e mais seguro?”

- Oh, perdoe, senhor, deixe-me viver!

- Cobarde! - gritou Villefort.

-Lembre-se de que sou sua mulher!

- O que é, é uma envenenadora!

- Em nome do céu!...

- Não!

- Em nome do amor que teve por mim!...

- Não, não!

- Em nome do nosso filho! Ah, pelo nosso filho, deixe-me viver!

- Não, não e não, já disse! Um dia, se a deixasse viver, talvez o matasse também, como aos outros.

- Eu matar o meu filho?! - gritou aquela mãe selvagem correndo para Villefort.

- Eu, matar o meu Édouard?!... Ah, ah! E um riso horrível, um riso de demónio, um riso de louca concluiu a frase e terminou num estertor cruel.

A Sr.ª de Villefort caíra aos pés do marido.

Villefort aproximou-se dela.

- Tome bem nota disto, senhora: se no meu regresso não estiver feita justiça, denunciá-la-ei por minha própria boca e prendê-la-ei por minhas próprias mãos.

Ela escutava palpitante, abatida, esmagada; só o olhar vivia nela e alimentava um fogo terrível.

- Ouviu o que disse - prosseguiu Villefort. - Vou ao tribunal pedir a pena de morte para um assassino... Se no regresso a encontrar viva, dormirá esta noite na Conciergerie.

A Sr.ª de Villefort soltou um suspiro; os nervos distenderam-se-lhe e caiu desamparada no tapete.

O procurador régio pareceu esforçar um gesto de piedade, olhou-a com menos severidade e inclinou-se ligeiramente diante dela.

- Adeus, minha senhora, adeus! - disse devagar.

Este adeus caiu como o cutelo mortal sobre a Sr.ª de Villefort, que perdeu os sentidos.

O procurador régio saiu e fechou a porta à chave.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069