O Conde de Monte Cristo - Cap. 109: No tribunal Pág. 1010 / 1080

Beauchamp, um dos reis da imprensa, e que, por consequência, tinha o seu trono em toda a parte, olhava para a direita e para a esquerda. Viu Château-Renaud e Debray, que acabavam de conquistar as boas graças de um polícia e o tinham convencido a pôr-se atrás deles em vez de à frente, como era seu direito. O digno agente farejara o secretário do ministro e o milionário; mostrou-se portanto cheio de atenções para com os seus nobres vizinhos e até lhes permitiu irem cumprimentar Beauchamp, prometendo guardar-lhes os lugares.

- Então, vamos ver o nosso amigo? - perguntou Beauchamp.

- Sim, é verdade, meu Deus! - respondeu Debray. - O digno príncipe!... Que o diabo leve os príncipes italianos!

- Um homem que tivera Dante como genealogista e remontava a A Divina Comédia!

- Na nobreza de corda - observou fleumaticamente Château-Renaud.

- Será condenado, claro? - perguntou Debray a Beauchamp.

- Oh, meu caro, é a si, parece-me, que se deve perguntar isso! - respondeu o jornalista. - Conhece melhor do que nós o ambiente do ministério... Viu o juiz-presidente na última festa do seu ministro?

- Vi.

- Que lhe disse ele?

- Uma coisa que o vai admirar.

- Nesse caso, diga depressa, meu caro amigo, pois há muito tempo que me não dizem nada desse género.

- Bom, disse-me que Benedetto, considerado um fénix de subtileza, um gigante de astúcia, não passa de um vigarista muito subalterno e simplório, e absolutamente indigno das experiências que se farão depois da sua morte com os seus órgãos frenológicos.

- Ora, ora! - exclamou Beauchamp. - No entanto, desempenhava muito aceitavelmente o papel de príncipe.

- Para si, Beauchamp, que detesta os pobres príncipes e que fica encantado quando os apanha em falta; mas para mim, que farejo instintivamente um gentil-homem e levanto uma família aristocrática, seja ela qual for, como um perdigueiro levanta a caça.

- Portanto, nunca acreditou no seu principado?

- No seu principado, sim; que ele fosse príncipe, não.

- Bem achado! Garanto-lhe no entanto que para qualquer outra pessoa podia passar perfeitamente por príncipe... Vi-o em casa dos ministros.

- Sim, claro - interveio Château-Renaud. - Mas atendendo ao que os ministros percebem de príncipes...

- Há muita verdade no que acaba de dizer, Château-Renaud - declarou Beauchamp, desatando a rir. - A frase é curta, mas agradável. Peço-lhe licença para a utilizar nos meus artigos.

- Utilize-a, meu caro Sr. Beauchamp, utilize-a - respondeu Château-Renaud. - Dou-lhe a minha frase pelo que ela vale.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069