Beauchamp, um dos reis da imprensa, e que, por consequência, tinha o seu trono em toda a parte, olhava para a direita e para a esquerda. Viu Château-Renaud e Debray, que acabavam de conquistar as boas graças de um polícia e o tinham convencido a pôr-se atrás deles em vez de à frente, como era seu direito. O digno agente farejara o secretário do ministro e o milionário; mostrou-se portanto cheio de atenções para com os seus nobres vizinhos e até lhes permitiu irem cumprimentar Beauchamp, prometendo guardar-lhes os lugares.
- Então, vamos ver o nosso amigo? - perguntou Beauchamp.
- Sim, é verdade, meu Deus! - respondeu Debray. - O digno príncipe!... Que o diabo leve os príncipes italianos!
- Um homem que tivera Dante como genealogista e remontava a A Divina Comédia!
- Na nobreza de corda - observou fleumaticamente Château-Renaud.
- Será condenado, claro? - perguntou Debray a Beauchamp.
- Oh, meu caro, é a si, parece-me, que se deve perguntar isso! - respondeu o jornalista. - Conhece melhor do que nós o ambiente do ministério... Viu o juiz-presidente na última festa do seu ministro?
- Vi.
- Que lhe disse ele?
- Uma coisa que o vai admirar.
- Nesse caso, diga depressa, meu caro amigo, pois há muito tempo que me não dizem nada desse género.
- Bom, disse-me que Benedetto, considerado um fénix de subtileza, um gigante de astúcia, não passa de um vigarista muito subalterno e simplório, e absolutamente indigno das experiências que se farão depois da sua morte com os seus órgãos frenológicos.
- Ora, ora! - exclamou Beauchamp. - No entanto, desempenhava muito aceitavelmente o papel de príncipe.
- Para si, Beauchamp, que detesta os pobres príncipes e que fica encantado quando os apanha em falta; mas para mim, que farejo instintivamente um gentil-homem e levanto uma família aristocrática, seja ela qual for, como um perdigueiro levanta a caça.
- Portanto, nunca acreditou no seu principado?
- No seu principado, sim; que ele fosse príncipe, não.
- Bem achado! Garanto-lhe no entanto que para qualquer outra pessoa podia passar perfeitamente por príncipe... Vi-o em casa dos ministros.
- Sim, claro - interveio Château-Renaud. - Mas atendendo ao que os ministros percebem de príncipes...
- Há muita verdade no que acaba de dizer, Château-Renaud - declarou Beauchamp, desatando a rir. - A frase é curta, mas agradável. Peço-lhe licença para a utilizar nos meus artigos.
- Utilize-a, meu caro Sr. Beauchamp, utilize-a - respondeu Château-Renaud. - Dou-lhe a minha frase pelo que ela vale.