- A mulher do ministro, apre!
- Ah, perdão! - desculpou-se Château-Renaud. - Não frequento a casa dos ministros, deixo isso aos príncipes.
- O senhor não é apenas belo, barão, é também resplandecente. Tenha piedade de nós ou ainda acaba por nos queimar, qual outro Júpiter.
- Não direi mais nada - declarou Château-Renaud. - Mas que diabo tenham compaixão de mim, não me dêem a deixa.
- Então, procuremos chegar ao fim do nosso diálogo, Beauchamp. Dizia-lhe que a senhora me pedia anteontem informações a tal respeito. Informe-me e eu informá-la-ei...
- Bom, meus senhores, se se morre tão abundantemente (mantenho a palavra) em casa de Villefort é porque há um assassino lá em casa!
Os dois jovens estremeceram, pois já por mais de uma vez lhes ocorrera a mesma ideia.
- E quem é o assassino? - perguntaram - O pequeno Édouard.
Uma gargalhada dos dois rapazes não perturbou absolutamente nada o orador, que continuou:
- Sim, meus senhores, o pequeno Édouard, criança fenomenal, que mata já como gente grande.
- Está a brincar...
- De modo nenhum. Admiti ontem um criado saído de casa do Sr. de Villefort. Ouçam isto...
- Estamos a ouvir.
- E que vou despedir amanhã, porque o indivíduo come como uma frieira para se recompor do jejum de terror que se impunha em casa do anterior patrão. Mas dizia eu... Ah, sim! Parece que o querido menino deitou a mão a um frasco de qualquer droga, que utiliza de vez em quando contra aqueles que lhe desagradam. Primeiro foi o avozinho e a avozinha de Saint-Méran. que lhe desagradaram, e ele deitou-lhes três gotas do seu elixir: três gotas bastam; depois foi o simpático Barrois, velho criado do avozinho Noirtier, que de vez em quando tratava com rispidez o amável maganão. Vai daí, o amável maganão deitou-lhe três gotas do seu elixir. O mesmo aconteceu à pobre Valentine, que não o tratava com maus modos, mas de quem ele tinha ciúmes: deitou-lhe também três gotas do seu elixir, e tanto para ela como para os outros tudo acabou.
- Mas que diabo de história é essa? - insurgiu-se Château-Renaud.
- Sim, uma história do outro mundo, não é verdade? - observou Beauchamp.
- Isso é absurdo - declarou Debray.
- Pronto, lá estão vocês a procurar já meios dilatórios! Que diabo, perguntem ao meu criado, ou antes àquele que amanhã já não será meu criado: era o que se dizia lá em casa.
- Mas esse elixir, onde está? Qual é?
- Com a breca, o garoto esconde-o!
- E onde o arranjou?
- No laboratório da senhora sua mãe.
- A mãe tem portanto venenos no seu laboratório?