O Conde de Monte Cristo - Cap. 111: Expiação Pág. 1024 / 1080

E precipitou-se para fora dos aposentos da mulher, gritando:

- Édouard! Édouard! Pronunciava este nome com tal acento de angústia que os criados acorreram.

- O meu filho! Onde está o meu filho? - perguntou Villefort.

Afastem- no de casa; que não veja...

- O Sr. Édouard não está cá em baixo, senhor - respondeu o criado de quarto.

- Deve estar a brincar no jardim Vão ver! Vão ver!

- Não, senhor. A senhora chamou o filho há cerca de meia hora; o Sr. Édouard entrou nos aposentos da senhora e não voltou a descer.

Um suor gelado inundou a testa de Villefort, que escorregou no pavimento, e as ideias começaram a girar-lhe na cabeça como as engrenagens desordenadas de um relógio partido.

- Nos aposentos da senhora! - murmurou. - Nos aposentos da senhora!...

E voltou lentamente para trás, limpando a testa com uma das mãos apoiando-se com a outra nas paredes.

Quando entrou na sala teve de tornar a ver o corpo da pobre mulher.

Para chamar Édouard teria de acordar os ecos daquela sala transformada em túmulo; falar era violar o silêncio da tumba.

Villefort sentiu a língua paralisada na boca.

- Édouard, Édouard... - balbuciou.

O garoto não respondeu. Onde estaria o pequeno, que, no dizer dos criados, entrara nos aposentos da mãe e não saíra? Villefort deu um passo em frente.

O cadáver da Sr.ª de Villefort estava caído atravessado na porta do boudoir em que inevitavelmente se devia encontrar Édouard. Aquele cadáver parecia velar no limiar com os olhos fixos e abertos e uma horrível e misteriosa ironia nos lábios.

Atrás do cadáver, o reposteiro levantado deixava ver parte do boudoir, um piano vertical e a ponta de um sofá de cetim azul.

Villefort deu três ou quatro passos em frente e viu o filho deitado no canapé.

O garoto dormia, sem dúvida.

O desgraçado teve um ímpeto de alegria indizível: um raio de pura luz descia ao inferno em que se debatia.

Era apenas necessário passar por cima do cadáver, entrar no boudoir, tomar o pequeno nos braços e fugir com ele para longe, para muito longe.

Villefort já não era o homem que, devido a uma requintada corrupção, conserva o tipo de homem civilizado; era um tigre ferido de morte que ficou com os dentes quebrados no último ferimento.

Já não tinha medo dos preconceitos, mas tinha-o dos fantasmas. Tomou impulso e saltou por cima do cadáver como se se tratasse de transpor um braseiro devorador.

Tomou o filho nos braços, apertou-o, sacudiu-o, chamou-o; o pequeno não respondeu. Colou os lábios ávidos às faces de Édouard, mas elas estavam lívidas e geladas. Apalpou-lhe os membros hirtos. Pôs-lhe a mão no coração, mas este já não batia.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069