O Conde de Monte Cristo - Cap. 111: Expiação Pág. 1025 / 1080

O garoto estava morto.

Um papel dobrado em quatro caiu do peito de Édouard.

Fulminado, Villefort deixou-se cair de joelhos; o pequeno escapou-lhe dos braços inertes e rolou para o lado da mãe.

Villefort apanhou o papel, reconheceu a letra da mulher e percorreu-o avidamente.

Eis o que dizia:

Como sabe, era boa mãe, pois foi pelo meu filho que me tornei criminosa. Uma boa mãe não parte sem o filho!

Villefort não podia acreditar nos seus olhos; Villefort não podia acreditar na sua razão. Arrastou-se para o corpo de Édouard, que examinou mais uma vez com a atenção minuciosa com que a leoa olha o seu leãozinho morto.

Depois escapou-lhe do peito um grito dilacerante.

- Deus! - murmurou. - Sempre Deus!...

Aquelas duas vítimas apavoravam-no e sentia apoderar-se de si o horror daquela solidão povoada por dois cadáveres.

Pouco antes amparava-o a raiva, essa imensa faculdade dos homens fortes, e o desespero, essa virtude suprema da agonia, que impelia os Titãs a escalar o céu e Ajax a mostrar o punho aos deuses.

Villefort curvou a cabeça sob o peso da dor, levantou-se, sacudiu os cabelos húmidos de suor e eriçados de terror, e ele, que nunca tivera piedade de ninguém, foi procurar o velho pai para ter, na sua fraqueza, alguém com quem desabafar a sua desgraça, alguém junto de quem chorar.

Desceu a escada que conhecemos e entrou nos aposentos de Noirtier.

Quando Villefort entrou, Noirtier parecia escutar com atenção e tão afectuosamente quanto lho permitia a sua imobilidade o abade Busoni, sempre tão calmo e frio como de costume.

Ao ver o abade, Villefort levou a mão à testa. O passado acudiu-lhe à memória, como uma dessas vagas cujo furor levanta mais espuma do que as outras.

Recordou-se da visita que fizera ao abade dois dias depois do jantar de Auteuil e da visita que lhe fizera o próprio abade no dia da morte de Valentine.

- O senhor aqui? - observou. - Então só aparece para escoltar a morte?...

Busoni levantou-se. Ao ver a alteração do rosto do magistrado, o brilho feroz dos seus olhos, compreendeu ou julgou compreender que a cena do tribunal se verificara; ignorava o resto.

- Estive uma vez aqui para rezar perante o corpo da sua filha - respondeu Busoni.

- E hoje, que veio cá fazer? - Vim dizer-lhe que já me pagou suficientemente a sua dívida e que a partir deste momento vou rezar a Deus para que se dê por satisfeito, tal como eu me dou.

- Meu Deus! - exclamou Villefort, recuando com o pânico nos olhos. - Essa voz... não é a do abade Busoni!

- Pois não.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069