Aquela imobilidade durou vários minutos, até se concluir a horrível subversão da razão.
Então, soltou um grande grito, seguido de uma longa gargalhada, e precipitou-se para a escada.
Um quarto de hora depois o quarto de Valentine voltou a abrir-se e o conde de Monte-Cristo reapareceu.
Pálido, com os olhos tristes e o peito opresso, todas as feições daquele rosto habitualmente tão calmo e tão nobre estavam transtornadas pela dor. Trazia nos braços o garoto, ao qual nenhum socorro pudera restituir a vida.
Pôs um joelho no chão e depositou-o religiosamente ao pé da mãe, com a cabeça pousada no peito dela.
Depois levantou-se, saiu e perguntou a um criado que encontrou na escada:
- Onde está o Sr. de Villefort? Sem responder, o criado apontou para o lado do jardim. Monte-Cristo desceu a escadaria, encaminhou-se para o sítio indicado e viu, no meio dos criados que formavam círculo à volta dele, Villefort, de enxada na mão a revolver a terra com uma espécie de raiva.
- Ainda não é aqui - dizia. - Ainda não é aqui...
E cavava mais longe.
Monte-Cristo aproximou-se dele e disse-lhe baixinho, em tom quase humilde:
- Perdeu um filho, mas...
Villefort interrompeu-o; não ouvira nem compreendera.
- Oh, hei-de encontrá-lo! - gritou. - Escusa de dizer que não está aqui, pois hei-de encontrá-lo nem que tenha de procurá-lo até ao dia do Juízo Final.
Monte-Cristo recuou aterrado.
- Enlouqueceu! - exclamou.
E como se receasse que as paredes da casa maldita se abatessem sobre si, correu para a rua, duvidando pela primeira vez que tivesse o direito de fazer o que fizera.
- Oh, basta, basta! - gritou. - Salvemos o último.
Ao chegar a casa, Monte-Cristo encontrou Morrel, que vagueava pelo palácio dos Campos Elísios, silencioso como um fantasma que esperasse o momento fixado por Deus para regressar ao seu túmulo.
- Prepare-se, Maximilien - disse-lhe com um sorriso. Saímos de Paris amanhã.
- Já não tem mais nada a fazer aqui? - perguntou Morrel.
- Não - respondeu Monte-Cristo -, e Deus queira que não tenha feito de mais.