- Sim, e levo-lhe o seu irmão.
- Veja se no-lo restitui curado, Sr. Conde... - pediu Julie.
Morrel virou-se para ocultar o seu rubor.
- Notou então que ele não estava bem? - inquiriu o Conde.
- Notei - respondeu a jovem senhora -, e receio que ele se aborreça connosco.
- Eu o distrairei - prometeu o conde.
- Estou pronto, senhor - disse Maximilien. - Adeus, meus bons amigos! Adeus Emmanuel! Adeus, Julie!
- Como adeus?! - exclamou Julie. - Partes assim de repente, sem teres nada preparado, sem passaporte?
- Os adiamentos duplicam o desgosto das separações - observou Monte-Cristo -, e Maximilien, estou certo disso, deve ter tomado todas as providências, como lhe recomendei.
- Tenho o meu passaporte e as minhas malas estão feitas - informou Morrel com a mesma tranquilidade alheada.
- Óptimo! - exclamou Monte-Cristo, sorrindo. - Nem outra coisa era de esperar de um bom soldado.
- E o senhor deixa-nos assim, de um momento para o outro? - perguntou Julie. - Não nos concede um dia, nem uma hora?
- A minha carruagem está à porta, minha senhora. Preciso de estar em Roma dentro de cinco dias.
- Mas Maximilien não vai a Roma? - perguntou Emmanuel.
- Vou aonde o conde me quiser levar - respondeu Morrel, com um sorriso triste. - Pertenço-lhe ainda por um mês.
- Oh, meu Deus, como ele diz aquilo, Sr. Conde!
- Maximilien acompanha-me; portanto, esteja tranquila a respeito do seu irmão - respondeu o conde com a sua persuasiva afabilidade.
- Adeus, minha irmã! - repetiu Morrel. - Adeus, Emmanuel!
- Aflige-me o seu alheamento - confessou Julie. - Oh, Maximilien, Maximilien, escondes-nos qualquer coisa!
- Então, então!... - interveio Monte-Cristo. Prometo-lhes que o verão regressar alegre, risonho e feliz.
Maximilien deitou a Monte-Cristo um olhar quase desdenhoso, quase irritado.
- Partamos! - disse o conde.
- Antes de partir, Sr. Conde - atalhou Julie -, permita-me que lhe diga tudo o que no outro dia...
- Minha senhora - interrompeu-a o conde, pegando-lhe nas mãos -, tudo o que me dissesse nunca valeria o que leio nos seus olhos, nem o que o seu coração sente, nem o que o meu experimenta. Como os benfeitores de romance, devia ter partido sem a tornar a ver; mas tal virtude era superior às minhas forças, pois sou um homem fraco e vaidoso e o olhar húmido, feliz e terno dos meus semelhantes me faz bem. Agora parto e levo o egoísmo ao ponto de lhes dizer: não me esqueçam, meus amigos, porque provavelmente não me tornarão a ver.