O Conde de Monte Cristo - Cap. 112: A partida Pág. 1030 / 1080

- Não o tornaremos a ver?! - exclamou Emmanuel, enquanto duas grossas lágrimas rolavam pelas faces de Julie. - Não o tornaremos a ver! Mas nesse caso não é um homem, é um deus que nos deixa, e esse deus vai subir ao céu depois de aparecer na Terra para nela praticar o bem!

- Não diga isso - pediu vivamente Monte-Cristo. - Nunca digam isso, meus amigos Os deuses nunca fazem mal, os deuses param onde querem parar. O acaso não é mais forte do que eles, são eles que, pelo contrário, governam o acaso. Não, eu sou um homem, Emmanuel, e a sua admiração é tão injusta quanto as suas palavras são sacrílegas.

E beijando a mão de Julie, que se lhe precipitou nos braços, estendeu a outra mão a Emmanuel. Depois, arrancando-se daquela casa, doce ninho que albergava a felicidade, fez sinal a Maximilien para o seguir; um Maximilien passivo, insensível e consternado, como ficara depois da morte de Valentine.

- Restitua a alegria ao meu irmão! - disse Julie ao ouvido de Monte-Cristo.

Monte-Cristo apertou-lhe a mão como lha apertara onze anos antes na escada que conduzia ao gabinete de Morrel.

- Continua a confiar em Simbad, o Marinheiro? - perguntou-lhe sorrindo.

- Oh, sim!

- Então durma na paz e na confiança do Senhor.

Como dissemos, a sege de posta esperava-os. Quatro cavalos vigorosos agitavam as crinas e batiam na calçada com impaciência.

Ali esperava ao fundo da escadaria, com o rosto brilhante de suor. Parecia chegar de uma longa corrida.

- Então, foste a casa do velho? - perguntou-lhe o conde em árabe.

Ali fez sinal que sim.

- E desdobraste-lhe a carta diante dos olhos, como te ordenei?

- Sim - respondeu também, respeitosamente, o escravo.

- E que disse ele, ou antes: que fez?

Ali colocou-se debaixo da luz, de forma que o amo o pudesse ver, e, imitando com a sua inteligência tão dedicada a fisionomia do velho, fechou os olhos como fazia Noirtier quando queria dizer «sim».

- Bem, aceita - disse Monte-Cristo. - Partamos! Ainda mal proferira esta palavra e já a carruagem rodava e os cavalos arrancavam da calçada uma chuva de faúlhas.

Maximilien acomodou-se no seu canto sem dizer palavra.

Passou meia hora. A caleça deteve-se de súbito; o conde acabava de puxar o cordão de seda que correspondia ao dedo de Ali.

O núbio desceu e abriu a portinhola.

A noite cintilava de estrelas. Estavam no cimo da encosta de Villejuif, no planalto donde se vê Paris, como um mar sombrio, agitar os seus milhões de luzes, que parecem ondas fosforescentes.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069