O Conde de Monte Cristo - Cap. 112: A partida Pág. 1031 / 1080

Ondas, efectivamente, ondas mais ruidosas, mais apaixonadas, mais volúveis, mais furiosas e mais ávidas do que as do oceano irritado; ondas que não conhecem a calma, como as do vasto mar, ondas que se entrechocam constantemente, sempre espumando, sempre engolindo!...

O conde ficou só, e a um sinal de mão seu a carruagem avançou um pouco.

Então observou durante muito tempo, com os braços cruzados, aquele cadinho onde se fundiam, torciam e modelavam todas as ideias que brotam do abismo fervilhante para irem agitar o mundo. Depois de observar bem com o seu olhar poderoso aquela Babilónia que tanto fazia sonhar os poetas religiosos como os sarcásticos materialistas, murmurou, inclinando a cabeça e juntando as mãos, como se fosse rezar:

- Grande cidade. Há menos de seis meses que transpus as suas portas. Creio que foi o espírito de Deus que me trouxe até cá e que me permite retirar triunfante. Confiei a esse Deus, o único capaz de ler no meu coração, o segredo da minha presença dentro das tuas muralhas; só ele sabe que me retiro sem ódio e sem orgulho, mas não sem pesar; só ele sabe que não utilizei em meu proveito nem em benefício de causas vãs o poder que me confiou. ó grande cidade, foi no teu seio palpitante que encontrei o que procurava! Mineiro paciente, revolvi-te as entranhas para fazer sair o mal. Agora, a minha obra está concluída e a minha missão terminada; agora já me não podes oferecer nem alegrias nem dores.

Adeus, Paris! Adeus! O seu olhar passeou ainda sobre a vasta planície, como o de um génio nocturno. Em seguida passou a mão pela testa, voltou a subir para a carruagem, que se fechou atrás dele e desapareceu em breve do outro lado da encosta num turbilhão de pó e ruído.

Percorreram duas léguas sem pronunciar uma só palavra. Morrel sonhava, Monte-Cristo via-o sonhar.

- Morrel, está arrependido de me ter seguido?

- Não, Sr. Conde. Mas deixar Paris...

- Se soubesse que a felicidade o esperava em Paris, Morrel, tê-lo-ia deixado lá.

- É em Paris que Valentine repousa, e deixar Paris é perdê-la segunda vez.

- Maximilien - disse o conde -, os amigos que perdemos não repousam na Terra, estão sepultados no nosso coração, e foi Deus que assim o quis para que estivéssemos sempre acompanhados. Eu tenho dois amigos que me acompanham sempre assim um é aquele que me deu a vida, o outro o que me deu a inteligência. O espírito de ambos vive em mim. Consulto-os quando tenho dúvidas, e se tenho feito algum bem é aos seus conselhos que o devo. Consulte a voz do seu coração, Morrel, e pergunte-lhe se deve continuar a mostrar-me tão má cara.

- Meu amigo - respondeu Maximilien -, a voz do meu coração é muito triste e só me promete desventuras.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069