Quando dizia isto, ouviu-se na direcção indicada pelo conde um gemido doloroso e viu-se uma mulher fazer sinal a um passageiro do navio prestes a partir.
A mulher estava velada. Monte-Cristo seguiu-a com a vista com uma emoção que Morrel teria facilmente notado se, ao contrário do conde, não tivesse os olhos fixos no navio.
- Oh, meu Deus, não estou enganado! - exclamou Morrel. - Aquele rapaz que acena com o chapéu... aquele rapaz fardado é Albert de Morcerf!
- Pois é - respondeu Monte-Cristo. - Já o tinha reconhecido.
- Como assim? O senhor estava a olhar para o lado oposto! O conde sorriu como fazia quando não queria responder.
E os seus olhos voltaram à mulher velada, que desapareceu à esquina da rua.
Só então ele se virou e disse a Maximilien:
- Meu caro amigo, não tem nada que fazer nesta terra?
- Tenho de ir chorar sobre a sepultura do meu pai - respondeu surdamente Morrel.
- Então vá e espere-me no cemitério. Irei lá ter consigo.
- Deixa-me?
- Deixo... Também tenho uma piedosa visita a fazer.
Morrel deixou cair a mão na que lhe estendia o conde; depois, com um aceno de cabeça cuja melancolia seria impossível exprimir, deixou o conde e dirigiu-se para o leste da cidade.
Monte-Cristo deixou Maximilien afastar-se e permaneceu no mesmo sítio até ele desaparecer. Depois dirigiu-se para as Alamedas de Meilhan, em busca da casita que nos começos desta história se tornou familiar aos nossos leitores.
A casa erguia-se ainda à sombra da grande alameda de tílias que servia de passeio aos malsemeses ociosos, coberta de grandes maciços de vinha que cruzavam sobre a pedra amarelecida pelo sol ardente do Meio-Dia os seus ramos enegrecidos e retalhados pela idade. Dois degraus de pedra, gastos pelos pés, conduziam à porta de entrada, porta feita de três pranchas que nunca, apesar das suas reparações anuais, tinham conhecido o betume e a pintura e esperavam que a humidade voltasse para as unir.
Aquela casa, encantadora a despeito da sua vetustez, e alegre a despeito da sua aparente miséria, era a mesma em que habitara outrora o pai de Dantès. Simplesmente, o velho habitava a mansarda e o conde pusera toda a casa à disposição de Mercédès.
Foi lá que entrou a mulher do longo véu que Monte-Cristo vira afastar-se do navio que ia partir. A mulher fechava a porta no preciso momento em que ele aparecia à esquina de uma rua, de forma que o conde a viu desaparecer quase no mesmo instante em que a avistou.
Para ele, os degraus gastos eram velhos conhecidos; sabia melhor do que ninguém abrir a velha porta, de que um prego de cabeça larga levantava o loquete interior.
Por isso entrou sem bater nem prevenir, como um amigo, como um hóspede.