- Cautela, senhora, não é assim que se adora Deus! - observou Monte-Cristo. - Deus quer que compreendamos e discutamos o seu poder: foi para isso que nos deu o livre arbítrio.
- Não me diga isso, desgraçado! - exclamou Mercédès. - Se acreditasse que Deus me dera o livre arbítrio, que me restaria para me salvar do desespero?
Monte-Cristo empalideceu ligeiramente e baixou a cabeça, esmagado pela veemência daquela dor.
- Não quer dizer-me até à vista? - perguntou, estendendo-lhe a mão.
- Quero - respondeu Mercédès, mas apontando para o céu solenemente. - Como vê, ainda tenho esperança...
E depois de tocar na mão do conde com mão trémula, Mercédès correu para a escada e desapareceu.
Monte-Cristo saiu então lentamente da casa e tomou o caminho do porto.
Mas Mercédès não o viu afastar-se, embora estivesse à janela do quartinho do pai de Dantès. Os seus olhos procuravam ao longe o navio que levava o filho para o mar alto.
Verdade seja que a sua voz, como que a seu pesar, murmurava baixinho:
- Edmond, Edmond, Edmond!