O Conde de Monte Cristo - Cap. 112: A partida Pág. 1037 / 1080

Ora, Edmond, aquela que soube reconhecê-lo, aquela que foi capaz de o compreender, se a tivesse encontrado no seu caminho e a tivesse quebrado como vidro, nem por isso deixaria de o admirar, Edmond! Assim como existe um abismo entre mim e o passado, também existe um abismo entre o senhor e os outros homens, e a minha mais dolorosa tortura, confesso-lhe, é estabelecer comparações. Porque não há nada no mundo que se lhe compare, nada que se pareça consigo. E agora, Edmond, diga-me adeus e separemo-nos.

- Antes de a deixar, que deseja, Mercédès? – perguntou Monte-Cristo.

- Só desejo uma coisa, Edmond: que o meu filho seja feliz.

- Suplique-o ao Senhor, o único que tem a vida dos homens na mão, que afaste a morte dele. Do resto encarrego-me eu.

- Obrigada, Edmond.

- Mas a senhora, Mercédès?

- Eu não preciso de nada, vivo entre duas sepulturas: uma, a de Edmond Dantès, que morreu há muito tempo; amava-o! Esta palavra já não assoma aos meus lábios murchos, mas o meu coração ainda se recorda dela e por nada deste mundo desejaria perder essa lembrança do coração. A outra é a de um homem que Edmond Dantès matou; aprovo a morte, mas devo rezar pelo morto.

- O seu filho será feliz, minha senhora - repetiu o conde.

- Então, serei também feliz quanto o possa ser.

- Mas... enfim .. que fará?

Mercédès sorriu tristemente

- Se lhe dissesse que viveria nesta terra como a Mercédès doutrora, isto é, trabalhando, o senhor não acreditaria. Já só sei rezar, mas não tenho necessidade de trabalhar; o pequeno tesouro que o senhor enterrou encontrava-se no sítio indicado. As pessoas quererão saber quem sou, perguntarão o que faço, ignorarão como vivo. Que importa! Trata-se de assunto entre Deus, o senhor e eu.

- Mercédès - disse o conde -, não a censuro, mas exagerou o sacrifício renunciando a toda a fortuna acumulada pelo Sr. de Morcerf e metade da qual pertencia por direito à sua economia e à sua orientação?

- Adivinho o que me vai propor, mas não posso aceitar. Edmond, o meu filho proibir-mo-ia.

- Sendo assim, tomarei o cuidado de nada fazer pela senhora que não tenha a aprovação do Sr. Albert de Morcerf. Averiguarei as suas intenções e submeter-me-ei a elas. Mas se aceitar o que pretendo fazer, imitá-lo-á sem repugnância?

- Bem sabe, Edmond, que já não sou uma criatura pensante; de determinação só tenho a de nunca mais cair noutra. Deus sacudiu-me de tal modo nas suas tempestades que perdi a vontade disso. Estou nas suas mãos como um pardal nas garras da águia. Ele não quer que morra, uma vez que vivo. Se me enviar ajuda, será de sua vontade e aceitá-la-ei.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069