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Capítulo 113: O passado

Página 1042

Monte-Cristo ergueu os olhos ao céu, mas não viu o céu: havia um véu de pedra entre ele e o firmamento. Pensou que houvera um véu não menos espesso entre os olhos daqueles a quem o abade Faria oferecia tesouros e os tesouros que lhes oferecia.

- Os prisioneiros podiam ver-se? - perguntou Monte-Cristo.

- Oh, não, senhor, era expressamente proibido! Mas eles eludiram a proibição abrindo uma galeria que ia de uma cela à outra.

- E qual dos dois abriu a galeria?

- O mais novo, com certeza - respondeu o porteiro. - O rapaz era engenhoso e forte, ao passo que o pobre abade era velho e fraco. Além disso, tinha o espírito demasiado vacilante para seguir uma ideia.

- Cegos!... - murmurou Monte-Cristo.

- Seja como for - continuou o porteiro -, o mais novo abriu a galeria. Com quê? Ninguém sabe. Mas abriu-a, e a prova é que ainda se vêem sinais dela. Repare, não os vê? E aproximou o archote da parede.

- Sim, realmente... - respondeu o conde, com a voz embargada pela emoção.

- Daí resultou que os dois prisioneiros comunicaram um com o outro. Quanto tempo durou a comunicação? Ninguém sabe. Ora, um dia o prisioneiro velho adoeceu e morreu. Adivinha o que fez o novo? - perguntou o porteiro, interrompendo-se.

- Diga.

- Apoderou-se do defunto, que deitou na sua própria cama com a cara virada para a parede, voltou à cela vazia, tapou o buraco e meteu-se no saco do morto. Já viu semelhante ideia?

Monte-Cristo fechou os olhos e sentiu-se passar de novo por todas as impressões que experimentara quando aquela tela grosseira, ainda impregnada do frio do cadáver, lhe tocara na cara.

O porteiro continuou:

- Veja o senhor qual era o seu plano: julgava que enterravam os mortos no Castelo de If, e como estava convencido de que não gastavam dinheiro com caixões para os presos, contava levantar a terra com os ombros. Mas infelizmente havia no castelo um costume que prejudicava o seu plano: não enterrávamos mortos; limitavam-se a prender-lhes um pelouro aos pés e a lançá-los ao mar. Foi o que se fez e o nosso homem foi lançado à água do alto da galeria. No dia seguinte encontraram o verdadeiro morto na sua cama e adivinharam tudo, porque os coveiros disseram então o que se não tinham atrevido a dizer até ali, isto é, que no momento em que o corpo fora lançado no vácuo tinham ouvido um grito terrível, abafado imediatamente pela água, na qual desaparecera.

O conde respirou penosamente. O suor corria-lhe pela testa e a angústia apertava-lhe o coração.

- Não - murmurou -, não! A dúvida que experimentei era um princípio de esquecimento. Mas aqui o coração sangra de novo e volta a sentir-se faminto de vingança. E o prisioneiro, nunca mais ouviram falar dele? - perguntou.

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pág. 1042 (Capítulo 113)

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 1042

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069