O Conde de Monte Cristo - Cap. 114: Peppino Pág. 1054 / 1080

Danglars compreendeu que dentro la testa queria dizer «cabeça para dentro». Fazia, como vemos, rápidos progressos no italiano.

Obedeceu, não sem inquietação, e como a inquietação aumentava de minuto a minuto, passados alguns instantes o seu espírito, em vez do vácuo que assinalámos no momento da partida e que o levara a adormecer, o seu espírito, dizíamos, encontrou-se cheio de inúmeros pensamentos, uns mais próprios do que outros para manterem desperto o interesse de um viajante, e sobretudo de um viajante na situação de Danglars.

Os seus olhos adquiriram nas trevas o grau de acuidade que transmitem no primeiro momento as emoções fortes e que se embota mais tarde por excesso de utilização. Antes de se ter medo, vê-se bem; enquanto se tem medo, vê-se a dobrar, e depois de se ter medo vê-se nublado.

Danglars viu um homem envolto numa capa que galopava à portinhola da direita.

- Algum gendarme - murmurou. - Terei sido assinalado pelos telégrafos franceses às autoridades pontifícias? Resolveu sair de semelhante ansiedade.

- Para onde me levam? - perguntou.

- Dentro la testa! - repetiu a mesma voz no mesmo tom de ameaça.

Danglars virou-se para a portinhola da esquerda.

Outro homem a cavalo galopava à portinhola da esquerda.

“Decididamente”, pensou Danglars com a testa coberta de suor, «decididamente, fui apanhado...”

E recostou-se no fundo da caleça, desta vez não para dormir, mas sim para pensar.

Pouco depois a Lua surgiu no céu.

Do fundo da caleça olhou para os campos; tornou a ver então os grandes aquedutos, fantasmas de pedra que notara ao passar; simplesmente, em vez de os ter à direita, tinha-os agora à esquerda.

Compreendeu que tinham obrigado a carruagem a dar meia volta e que o levavam novamente para Roma.

- Que pouca sorte - murmurou -, devem ter obtido a extradição! A carruagem continuava a correr com espantosa velocidade.

Passou uma hora terrível, pois em cada novo ponto de referência que via à sua passagem o fugitivo reconhecia, sem sombra de dúvida, que o reconduziam ao ponto de partida. Por fim distinguiu uma massa sombria contra a qual lhe pareceu que a carruagem ia chocar. Mas a carruagem virou e contornou essa massa sombria, que não passava da cintura de muralhas que rodeia Roma.

- Oh, oh! - murmurou Danglars. - Não entramos na cidade, o que prova que não estou nas mãos da justiça. Meu Deus, será que...? Os cabelos eriçaram-se lhe.

Recordou-se das interessantes histórias de bandidos romanos, tão pouco acreditadas em Paris, que Albert de Morcerf contara à Sr.ª Danglars e a Eugénie quando o jovem visconde ainda aspirava a ser genro de uma e marido da outra.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069