O Conde de Monte Cristo - Cap. 116: O Perdão Pág. 1067 / 1080

- Tome o meu último ouro - balbuciou Danglars estendendo-lhe a carteira - e deixe-me viver aqui, nesta caverna; já não peço a liberdade, só peço que me deixem viver.

- Sofre muito? - perguntou Vampa.

- Oh, sim, sofro, e cruelmente!

- Pois há homens que ainda sofreram mais do que o senhor.

- Não acredito.

- Pois pode acreditar. Aqueles que morreram de fome.

Danglars pensou no velho que, durante as suas horas de alucinação, via através das janelas do seu pobre quarto gemer no seu leito.

Bateu com a testa no chão e gemeu.

- Sim, é verdade, há quem tenha sofrido ainda mais do que eu, mas esses ao menos eram mártires.

- Está pelo menos arrependido? - perguntou uma voz sombria e solene, que fez eriçar os cabelos na cabeça de Danglars.

O seu olhar enfraquecido procurou distinguir os objectos e viu atrás do bandido um homem envolto numa capa e oculto na sombra de uma coluna de pedra.

- Arrependido de quê? - balbuciou Danglars.

- Do mal que fez - disse a mesma voz.

- Oh, sim, estou arrependido, estou arrependido! - gritou Danglars.

E bateu no peito com o punho emagrecido.

- Então perdoo-lhe - disse o homem, tirando a capa e dando um passo para se colocar debaixo da luz.

- O conde de Monte-Cristo! - exclamou Danglars, mais pálido de terror do que estava um momento antes de fome e miséria.

- Engana-se, não sou o conde de Monte-Cristo.

- Quem é então?

- Sou aquele que o senhor vendeu, entregou, desonrou; sou aquele cuja noiva o senhor infamou; sou aquele que o senhor calcou para se erguer até à fortuna; sou aquele cujo pai o senhor fez morrer de fome, que condenou a morrer de fome, e que no entanto lhe perdoa porque necessita de ser também perdoado, sou Edmond Dantès!

Danglars soltou apenas um grito e caiu prosternado.

-Levante-se - disse o conde. - Tem a vida salva. A mesma sorte não tiveram os seus dois outros cúmplices: um enlouqueceu e o outro morreu! Guarde os cinquenta mil francos que lhe restam e que lhe ofereço; quanto aos seus cinco milhões roubados aos hospícios, já foram restituídos por mão desconhecida. E agora coma e beba; esta noite é meu hóspede.

Vampa, quando este homem estiver refeito, será livre.

Danglars permaneceu prosternado enquanto o conde se afastava.

Quando levantou a cabeça só viu uma espécie de sombra desaparecer no corredor, diante da qual se inclinavam os bandidos.

Como o conde ordenara, Danglars foi servido por Vampa, que lhe mandou trazer o melhor vinho e os mais belos frutos da Itália, e que, depois de o meter na sua sege de posta, o abandonou na estrada encostado a uma árvore.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069