Sentou-se e Monte-Cristo sentou-se diante dele.
Encontravam-se na maravilhosa sala de jantar que já descrevemos e em que estátuas de mármore traziam à cabeça cestas cheias de flores e de frutos.
Morrel olhara tudo vagamente e era provável que não tivesse visto nada.
- Conversemos como homens - disse, olhando fixamente o conde.
- Fale - respondeu Monte-Cristo.
- Conde - prosseguiu Morrel -, o senhor reúne em si todos os conhecimentos humanos e dá-me a impressão de provir de um mundo mais avançado e adiantado do que o nosso.
- Há um pouco de verdade nisso, Morrel - respondeu o conde, com o sorriso melancólico que lhe ficava tão bem - Provenho de um planeta chamado dor.
- Acredito em tudo o que o senhor me diz sem procurar aprofundar-lhe o sentido, conde; e a prova é que o senhor me disse que vivesse e eu tenho vivido; que me disse que tivesse esperança e eu quase tenho tido esperança. Ousarei portanto perguntar-lhe, como se o senhor já tivesse morrido uma vez: conde, custa muito? Monte-Cristo fitava Morrel com indefinível expressão de ternura.
- Sim - respondeu. - Sim, sem dúvida, custa muito se quebrarmos brutalmente o invólucro mortal que deseja obstinadamente viver. Se fizermos gritar a nossa carne nos dentes imperceptíveis de um punhal. Se furarmos com uma bala ininteligente e sempre pronta a enganar-se no caminho o nosso cérebro, que o mais pequeno choque magoa. Claro que sofrerá e deixará odiosamente a vida, que no meio da sua agonia desesperada lhe parecerá melhor do que um repouso adquirido tão caro.
- Sim, compreendo - disse Morrel. - A morte, como a vida, tem os seus segredos de dor e volúpia: o principal é desvendá-los.
- Exactamente, Maximilien; acaba de dizer a palavra certa. A morte é, conforme o cuidado que ponhamos em nos darmos bem ou mal com ela, ou uma amiga que nos embala tão suavemente como uma ama, ou uma inimiga que nos arranca violentamente a alma do corpo. Um dia, depois de o nosso mundo viver mais um milhar de anos, quando dominarmos todas as forças destrutivas da natureza para as pormos ao serviço do bem-estar geral da humanidade; quando o homem conhecer, como você dizia há pouco, os segredos da morte, a morte tornar-se-á tão agradável e voluptuosa como o sono saboreado nos braços da nossa bem-amada.
- E se o senhor quisesse morrer, conde, saberia morrer assim?
- Saberia.
Morrel estendeu-lhe a mão.
- Compreendo agora por que motivo me marcou encontro aqui, nesta ilha desolada, no meio do mar, neste palácio subterrâneo, sepulcro capaz de fazer inveja a um faraó: foi porque gosta de mim, não é verdade, conde?