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Capítulo 15: O número 34 e o número 27

Página 110
A fome canina tornava-lhe apetecíveis à vista e tentadores ao olfacto aqueles alimentos que dantes lhe repugnavam. Às vezes, conservava durante uma hora na mão o prato que os continha, ele olhos cravados no naco de carne ou no peixe infecto, bem como no pão negro e bolorento. Eram os derradeiros instintos da vida que ainda lutavam nele e que de vez em quando derrubavam a sua resolução. Então, a sua masmorra já lhe não parecia tão sombria e o seu estado parecia-lhe menos desesperado. Ainda era novo; devia ter vinte e cinco anos e restavam-lhe pouco mais ou menos cinquenta anos para viver, ou seja, duas vezes mais do que já vivera. Durante esse enorme lapso de tempo, quantos acontecimentos poderiam forçar as portas, derrubar as muralhas do Castelo de If e restituir-lhe a liberdade! Então, aproximava os dentes da comida que, Tântalo voluntário, ele próprio afastava da boca. A lembrança do seu juramento acudia-lhe ao espírito e aquela natureza generosa tinha demasiado medo de se desprezar a si mesma para faltar a esse juramento. Gastou, pois, rigoroso e implacável, a pouca existência que lhe restava e chegou um dia em que já não teve forças para se levantar e lançar pela janela o jantar que lhe traziam.

No dia seguinte já não via e quase não ouvia. o carcereiro julgou tratar-se de uma doença grave; Edmond esperava uma morte próxima.

O dia passou-se assim. Edmond sentia um vago entorpecimento que não deixava de lhe proporcionar certo bem-estar. Os arrancos nervosos do seu estômago tinham diminuído e os ardores da sede haviam-se acalmado. Quando fechava os olhos via uma quantidade de luzes brilhantes idênticas aos fogos-fátuos que percorrem de noite os terrenos pantanosos. Era o crepúsculo desse país desconhecido chamado a morte. De súbito, à noite, por volta das nove horas, ouviu um ruído abafado na parede junto da qual estava deitado.

Tantos bichos imundos tinham vindo fazer barulho na prisão que pouco a pouco Edmond habituara-se a dormir sem que o seu sono fosse perturbado por tão pouco. Mas desta vez, quer porque os seus sentidos estivessem excitados pela abstinência, quer porque realmente o ruído fosse mais forte do que de costume, quer ainda porque naquele momento supremo tudo adquirisse importância, Edmond soergueu a cabeça para ouvir melhor.

Tratava-se de um arranhar sempre igual que parecia denotar quer uma garra enorme, quer um dente poderoso, quer finalmente a pressão de qualquer instrumento nas pedras.

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pág. 110 (Capítulo 15)

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 110

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069