Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 15: O número 34 e o número 27

Página 111

Apesar de enfraquecido, o cérebro do jovem foi assaltado por essa ideia banal constantemente presente no espírito dos prisioneiros: a liberdade. Aquele barulho chegava tão precisamente no momento em que todo o ruído ia cessar para ele que lhe parecia que Deus se mostrava enfim compadecido dos seus sofrimentos e lhe enviava aquele barulho para o avisar de que se detivesse à beira da sepultura onde o seu pé já vacilava. Quem sabe se um dos seus amigos, um desses entes queridos em que pensara tantas vezes, não se ocupava dele naquele momento e procurava encurtar a distância que os separava.

Mas não, Edmond enganava-se sem dúvida e tratava-se de um desses sonhos que pairam à porta da morte.

Contudo, Edmond continuava a ouvir o ruído. Este durou cerca de três horas e depois Edmond ouviu uma espécie de desmoronamento, depois do qual o ruído cessou.

Poucas horas mais tarde recomeçou mais forte e mais próximo.

Já Edmond se interessava por aquele trabalho que lhe fazia companhia quando, de súbito, o carcereiro entrou.

Havia cerca de oito dias que resolvera morrer e quatro que começara a pôr o projecto em execução sem que Edmond dirigisse a palavra àquele homem, não lhe respondesse quando lhe perguntara de que doença julgava sofrer e se virasse para a parede quando o outro o olhara com demasiada atenção. Mas naquele dia o carcereiro poderia ouvir aquele barulho abafado, alarmar-se, pôr-lhe termo e destruir assim, talvez, não sei que esperança, cuja simples ideia fascinava os derradeiros momentos de Dantès.

O carcereiro trazia o pequeno-almoço.

Dantès soergueu-se na cama, engrossou a voz e desatou a falar de tudo quanto lhe veio à cabeça: da má qualidade da comida que o carcereiro trazia, do frio que se rapava naquela masmorra, etc., sempre murmurando e resmungando para ter o direito de gritar mais alto e cansando a paciência do carcereiro, que precisamente naquele dia solicitara para o prisioneiro doente um caldo e pão fresco e lhe trazia esse caldo e esse pão.

Felizmente, o homem julgou que Dantès delirava, pousou a comida em cima da mesa coxa em que tinha o hábito de a colocar e retirou-se.

De novo livre, Edmond pôs-se a escutar com alegria.

O ruído tornara-se tão distinto que naquele momento o jovem já o ouvia sem esforço.

«Não há dúvida», disse para consigo, «se o ruído continua, apesar de já ser dia, é porque algum pobre prisioneiro como eu trabalha para se libertar. Oh, se estivesse perto dele como o ajudaria!»

Depois, de repente, uma nuvem sombria passou sobre esta aurora de esperança naquele cérebro habituado à desgraça e que só dificilmente poderia recuperar as alegrias humanas: assaltou-o bruscamente a ideia de que o barulho poderia ser provocado pelo trabalho de alguns operários que o Governo empregasse nas reparações de uma cela contígua.

<< Página Anterior

pág. 111 (Capítulo 15)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 111

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069