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Capítulo 15: O número 34 e o número 27

Página 119

Estas poucas palavras foram proferidas com um acento que convenceu Dantès. Não perguntou mais nada, levantou-se, tomou as mesmas precauções com os fragmentos tirados da parede do que as que já tomara com os anteriores e empurrou a cama contra amuralha.

Desde então, Dantès entregou-se por completo à sua felicidade. Nunca mais estaria só, decerto, talvez até conseguisse ser livre.

Na pior das hipóteses, se continuasse prisioneiro, teria um companheiro. Ora o cativeiro compartilhado não passa de meio cativeiro. Os queixumes em comum são quase preces; preces que se rezam a dois são quase acções de graças.

Dantès andou durante todo o dia de um lado para o outro na sua cela, com o coração a pular de alegria. De vez em quando, a alegria sufocava-o. Sentava-se então na cama e comprimia o peito com a mão. Ao mais pequeno ruído que ouvia na passagem coberta, saltava para a porta. Uma vez ou duas, o receio de que o separassem daquele homem que não conhecia, mas que no entanto estimava já como um amigo, passou-lhe pela cabeça. Se isso acontecesse, estava decidido: no momento em que o carcereiro afastasse a cama e baixasse a cabeça para examinar o buraco, partir-lha-ia com a laje em que estava pousada a bilha.

Condená-lo-iam à morte, bem o sabia; mas não morreria de aborrecimento e desespero desde o momento em que aquele ruído miraculoso o restituíra à vida.

O carcereiro veio à noitinha. Dantès estava na cama, donde lhe parecia que guardava a melhor cobertura inacabada. Decerto fitou o visitante importuno com olhar estranho, pois o homem disse-lhe:

- Então, está cada vez mais louco?

Dantès não respondeu; receava que a emoção da sua voz o atraiçoasse.

O carcereiro retirou-se abanando a cabeça.

Quando anoiteceu, Dantès julgou que o vizinho aproveitaria o silêncio e a escuridão para reatar a conversa consigo, mas enganava-se; a noite passou sem que nenhum ruído respondesse à sua febril expectativa. Mas no dia seguinte, depois da visita da manhã, quando afastou a cama da muralha, ouviu três pancadas a intervalos regulares e precipitou-se de joelhos

- É o senhor? - perguntou. - Estou aqui! - O seu carcereiro já se foi embora? - perguntou a voz.

- Já - respondeu Dantès - e só voltará à tardinha. Temos doze horas de liberdade.

- Posso portanto trabalhar? - insistiu a voz.

- Pode, sim, e imediatamente, agora mesmo, suplico-lhe.

Acto contínuo a porção de terra em que Dantes, meio metido na abertura, apoiava as mãos pareceu ceder debaixo dele. Recuou, enquanto uma massa de terra e pedras soltas se precipitava num buraco acabado de, abrir por baixo da abertura que ele próprio fizera. Então, no fundo desse buraco escuro e cuja profundidade não podia calcular, viu aparecer uma cabeça, ombros e finalmente um homem completo, que saiu com bastante agilidade da escavação praticada.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 119

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069