- Digo que me enganei, que a imperfeição dos meus desenhos me levou a resultados errados, que a falta de uma bússola me perdeu, que uma linha de erro no meu plano equivaleu na realidade a quinze pés e que tomei a parede que o senhor abriu pela da cidadela!
- Mas então iria dar ao mar!
- Era o que eu queria.
- E se tivesse conseguido?
- Deitava-me a nado, alcançava uma das ilhas que rodeiam o Castelo de If, quer a ilha de Daume, quer a ilha de Tiboulen, quer até a costa, e estava salvo.
- Conseguiria nadar até lá?
- Deus dar-me-ia forças. E agora está tudo perdido!
- Tudo?
- Sim. Tape o seu buraco, com precaução, não trabalhe mais, não faça nada e espere as minhas notícias.
- Quem é, ao menos? Ao menos diga-me quem é!
- Sou... sou... nº 27
- Desconfia de mim? - perguntou Dantès.
Edmond julgou ouvir como que um riso amargo transpor a abóbada e subir até ele.
- Oh, sou um bom cristão! - gritou, adivinhando instintivamente que aquele homem tencionava abandoná-lo.
- Juro-lhe por Cristo que mais depressa me deixarei matar do que entrever aos seus carrascos e aos meus a sombra da verdade. Mas em nome do Céu não me prive da sua presença, não me prive da sua voz, suplico-lhe, pois cheguei ao limite das minhas forças e juro-lhe que partirei a cabeça contra a muralha e o senhor será culpado da minha morte.
- Que idade tem? A sua voz parece a de um rapaz.
- Não sei a minha idade, porque não contei o tempo desde que estou aqui. O que sei é que ia fazer dezanove anos quando fui preso, em 28 de Fevereiro de 1815
- Ainda não completou vinte e seis anos - murmurou a voz. - bom, nessa idade ainda se não é um traidor.
- Oh, não, não! Juro-lhe - repetiu Dantès. - Já lhe disse e repito que mais depressa me deixarei fazer em bocados do que o atraiçoarei
- Fez bem em falar-me; fez bem em pedir-me, porque ia formar outro plano e afastar-me de si. Mas a sua idade tranquiliza-me. Irei ter consigo; espere por mim.
- Quando?
- Tenho de calcular as nossas probabilidades. Depois lhe darei sinal.
- Mas não me abandonará, não me deixará sozinho, virá ter comigo ou permitir-me-á que vá ter consigo? Fugiremos juntos, e se não pudermos fugir falaremos, o senhor das pessoas que lhe são queridas e eu das minhas. Decerto tem alguém que lhe é querido?...
- Estou só no mundo.
- Então, seremos amigos. Se for novo, serei seu camarada; se for velho, serei seu filho. O meu pai deve ter setenta anos, se ainda é vivo. Não amava mais ninguém a não ser ele e uma rapariga chamada Mercédès. O meu pai não me esqueceu, tenho a certeza; mas ela, só Deus sabe se ainda pensa em mim. Amá-lo-ei como amava o meu pai
- Pois sim, amanhã - disse o prisioneiro.