O Conde de Monte Cristo - Cap. 16: Um sábio italiano Pág. 121 / 1080

- Diz que escavou cinquenta pés para chegar aqui?

- Sim. Tal é, pouco mais ou menos, a distância que separa a minha cela da sua. Simplesmente, calculei mal a minha curva, por falta de instrumento de geometria para estabelecer a minha escala de proporções: em vez de quarenta pés de elipse, encontrei cinquenta. Julgava assim, como lhe disse, chegar à parede exterior, furá-la e atirar-me ao mar. Mas segui ao longo da passagem coberta para onde dá a sua cela, em vez de passar por baixo. Todo o meu trabalho está perdido porque essa passagem dá para um pátio cheio de guardas.

- É verdade - concordou Dantès. - Mas a passagem só acompanha um lado da minha cela e a minha cela tem quatro.

- Sim, sem dúvida, mas em primeiro lugar aqui está um que tem como muralha o rochedo. Seriam precisos dez anos de trabalho e dez mineiros munidos de todas as ferramentas próprias para furar o rochedo. Este deve ficar encostado aos alicerces dos aposentos do governador. Cairíamos nas caves, que fecham evidentemente à chave, e seriamos apanhados. O outro lado dá... Espere, para onde dá o outro lado?

- Esse lado era aquele onde se abria a seteira através da qual entrava a luz - seteira que ia sempre estreitando até ao momento que dava entrada à luz e pela qual uma criança não conseguiria decerto passar. Além disso, guarneciam-na três ordens de varões de ferro capazes de tranquilizar a respeito de uma evasão por esse meio o carcereiro mais desconfiado.

Ao mesmo tempo que fazia a pergunta, o recém-chegado ia arrastando a mesa para debaixo da janela.

- Suba para cima da mesa - disse a Dantès.

Dantès obedeceu, subiu para cima da mesa e, adivinhando as intenções do companheiro, encostou-se à parede e estendeu-lhe as mãos.

Aquele que dera como nome o número da sua cela e cujo verdadeiro nome Dantès ainda ignorava, subiu então mais lestamente do que a sua idade poderia fazer pressagiar, com uma habilidade de gato ou de lagarto, primeiro para cima da mesa, depois da mesa para as mãos de Dantès e depois das mãos para os ombros, curvado em dois, porque a abóbada da cela o impedia de se endireitar, meteu a cabeça entre a primeira ordem de varões e conseguiu assim ver de cima para baixo.

Passado um instante, retirou vivamente a cabeça.

- Oh, oh! - exclamou. - Bem me parecia...

Deixou-se escorregar ao longo do corpo de Dantès para cima da mesa e da mesa saltou para o chão.

- Bem lhe parecia o que? - perguntou o rapaz, ansioso, saltando por seu turno atrás dele.

O velho prisioneiro meditava.

- Sim, é isso... - disse por fim. - O quarto lado da sua cela dá para uma galeria exterior, espécie de caminho de ronda, onde passam as patrulhas e fazem guarda sentinelas.

- Tem a certeza?





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069