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Capítulo 16: Um sábio italiano

Página 123

- Eu? Porque sonhei em 1807 o projecto que Napoleão quis realizar em 1811. Porque, como Maquiavel no meio de todos esses principelhos que faziam da Itália um ninho de reinozinhos tirânicos e fracos, quis um grande e único império, sólido e forte. Porque julguei encontrar o meu César Bórgia num parvo coroado, que simulou compreender para melhor me trair. Era o projecto de Alexandre VI e Clemente VII. Esse projecto nunca irá por diante, pois empreenderam-no inutilmente e Napoleão não o pôde acabar. Decididamente, a Itália está amaldiçoada!

E o velhote baixou a cabeça.

Dantès não compreendia como podia um homem arriscar a vida por semelhantes interesses. É certo que se conhecia Napoleão por o ter visto e lhe ter falado, ignorava completamente, em contrapartida, quem eram Clemente VII e Alexandre VI

- O senhor não é - perguntou Dantès, começando a perfilhar a opinião do carcereiro, que era a opinião geral no Castelo de If - o padre que dizem estar... doente?

- Que dizem estar louco, é o que quer dizer, não é verdade?

- Não me atrevia... - confessou Dantès, sorrindo.

- Sim, sim - continuou Faria, com um riso amargo. - Sim, sou eu que passo por louco; sou eu que divirto há tanto tempo os hóspedes desta prisão, e que divertiria as criancinhas se houvesse crianças na morada da dor sem esperança.

Dantès permaneceu um instante imóvel e calado.

- Quer dizer que renuncia a fugir? - perguntou.

- Vejo a fuga impossível. E rebelarmo-nos contra Deus tentarmos o que Deus não quer que se realize.

- Não vale a pena desanimar. Seria também pedir demasiado à Providência querer triunfar à primeira tentativa. Não pode recomeçar noutro sentido o que fez neste?

- Sabe porventura o que fiz para falar assim de recomeçar? Sabe que levei quatro anos a fazer as ferramentas que possuo? Sabe que há dois anos que raspo e escavo uma terra dura como o granito? Sabe que tive de descarnar pedras que noutros tempos julgaria impossível remover, que passei dias inteiros nesse labor titânico e que às vezes à noite me sentia feliz quando tinha retirado uma polegada quadrada dessa velha argamassa, tornada tão dura como a própria pedra? Sabe que para esconder toda essa terra e todas essas pedras tive de furar a abóbada de uma escada, em cujo tambor todos esses escombros foram pouco a pouco lançados, pelo que agora o tambor está cheio e eu não saberia onde meter nem mais um punhado de pó? Sabe, finalmente, que julgava chegar ao fim de todos os meus trabalhos, que me sentia com a força exacta para executar essa tarefa e que Deus, não só recua esse objectivo como ainda o transporta não sei para onde?

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 123

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069