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Capítulo 17: A cela do abade

Página 135

- Pode presumir que o seu substituto tivesse algum interesse em que a carta desaparecesse?

- Talvez: porque me fez prometer duas ou três vezes, no meu interesse, dizia ele, não falar a ninguém na carta, e obrigou-me a jurar que não pronunciaria o nome inscrito no endereço.

- Noirtier... - repetiu o abade. - Noirtier... Conheci um Noirtier na corte da antiga rainha da Etrúria, um Noirtier que fora girondino durante a Revolução. Como se chamava o seu substituto?

- Villefort

O abade desatou a rir. Dantès olhou-o estupefacto.

- Que tem o senhor? - perguntou.

- Vê esse raio de luz? - inquiriu o abade.

- Vejo.

- Pois bem, agora é tudo mais claro para mim do que esse raio transparente e luminoso. Pobre criança, pobre rapaz! E esse magistrado foi bom para si?

- Foi

- Esse digno substituto queimou, destruiu a carta?

- Sim.

- Esse honesto fornecedor do carrasco obrigou-o a jurar que nunca mais pronunciaria o nome de Noirtier?

- Obrigou.

- Esse Noirtier, pobre cego, sabe quem era esse Noirtier? Esse Noirtier era o pai dele!

Um raio que tivesse caído aos pés de Dantès e cavado um abismo no fundo do qual se abrisse o Inferno, ter-lhe-ia produzido efeito menos rápido, menos eléctrico, menos esmagador, do que aquelas palavras inesperadas. Levantou-se e agarrou a cabeça com as mãos, como se quisesse impedi-la de rebentar.

- Seu pai! Seu pai! - gritou.

- Sim, seu pai, que se chama Noirtier de Villefort - acrescentou o abade.

Então uma luz fulgurante atravessou o cérebro do prisioneiro e tudo o que até ali lhe parecera obscuro foi de súbito iluminado por uma claridade deslumbrante. As tergiversações de Villefort durante o interrogatório, a carta destruída, o juramento exigido, a voz quase suplicante do magistrado que, em vez de ameaçar, parecia implorar, tudo lhe veio à memória. Soltou um grito e cambaleou um instante como um homem ébrio. Depois, correu para a abertura que conduzia da cela do abade à sua dizendo:

- Oh, preciso de estar só para pensar em tudo isso!

Mal chegou à sua masmorra atirou-se para cima da cama, onde o carcereiro o encontrou à tardinha, sentado, de olhos fixos e as feições contraídas, imóvel e mudo como uma estátua.

Durante as horas de meditação que entretanto tinham passado como segundos tomara uma terrível resolução e fizera um formidável juramento. Uma voz arrancou Dantès ao seu devaneio; a do abade Faria que, tendo recebido por sua vez a visita do carcereiro, vinha convidar Dantès para jantar com ele. A sua qualidade de louco reconhecido e sobretudo de louco divertido valia ao velho prisioneiro alguns privilégios, como o de receber pão um pouco mais branco e uma garrafinha de vinho ao domingo.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 135

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069