Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 17: A cela do abade

Página 136
Ora era justamente domingo e o abade vinha convidar o seu jovem companheiro a compartilhar o seu pão e o seu vinho.

Dantès seguiu-o. Todas as linhas do seu rosto se tinham recomposto e retomado o seu lugar habitual, mas com uma rigidez e uma firmeza, se assim se pode dizer, que denotavam ter tomado uma resolução. O abade olhou-o fixamente.

- Estou aborrecido por o ter ajudado nas suas investigações e por lhe ter dito o que disse - confessou.

- Porquê? - perguntou Dantès.

- Porque lhe infiltrei no coração um sentimento que lá não havia: a vingança.

Dantès sorriu.

- Falemos de outra coisa - pediu.

O abade olhou-o mais um instante e abanou tristemente a cabeça. Depois, como lhe pedira Dantès falou doutra coisa. O velho prisioneiro era um desses homens cuja conversação, como a das pessoas que muito sofreram, continha numerosos ensinamentos e encerrava sempre um interesse sempre renovado. Mas como não era egoísta, aquele infeliz nunca falava das suas desgraças.

Dantès escutava todas as suas palavras com admiração. Umas correspondiam a ideias que já possuía e a conhecimentos que faziam parte da sua condição de marinheiro, mas outras referiam-se a coisas desconhecidas e, como as auroras boreais que iluminam os navegadores nas latitudes austrais, mostravam ao jovem paisagens e horizontes novos iluminados por clarões fantásticos. Dantès compreendeu o prazer que experimentaria uma pessoa inteligente em acompanhar aquele espírito elevado nas alturas morais, filosóficas ou sociais em que tinha o hábito de se lançar.

- Devia ensinar-me um bocadinho do que sabe - declarou Dantès -, quanto mais não fosse para não se aborrecer comigo. Parece-me agora que deve preferir o isolamento a um companheiro sem educação nem cultura como eu. Se concordar com o que lhe peço, comprometo-me a nunca mais lhe falar de fugir.

O abade sorriu.

- Infelizmente, meu filho, a ciência humana é muito limitada e depois de lhe ensinar as matemáticas, a física, a história e as três ou quatro línguas vivas que falo, saberia tanto como eu.

Ora toda esta ciência não levaria mais de dois anos a passar do meu espírito para o seu.

- Dois anos! - exclamou Dantès. - Acha que poderia aprender todas essas coisas em dois anos?

- Na sua aplicação, não; nos seus princípios, sim. Aprender não é saber. Há os sabichões e os sábios. Uns são fruto da memória, os outros da filosofia.

<< Página Anterior

pág. 136 (Capítulo 17)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 136

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069