- Criança - disse o abade. - É marinheiro, é nadador, deve portanto saber que um homem carregado com semelhante fardo não daria cinquenta braçadas no mar. Deixe de se iludir com quimeras que nem sequer enganam o seu excelente coração. Ficarei aqui até soar a hora da minha libertação, que só pode ser agora a da morte. Quanto a si, fuja, parta! É novo, desembaraçado e forte. Não se preocupe comigo, restituo-lhe a sua palavra.
- Está bem - declarou Dantès. - Está bem. Nesse caso, também ficarei.
Em seguida, levantou-se e estendeu solenemente a mão por cima do velho.
- Pelo sangue de Cristo, juro só o deixar depois da sua morte.
Faria observou aquele jovem tão nobre, tão simples e tão digno e leu-lhe no rosto, animado pela expressão da mais pura dedicação, a sinceridade do seu afecto e a lealdade do seu juramento.
- Seja - disse o doente. - Aceito, obrigado.
Depois, segurando-lhe na mão:
- É possível que seja recompensado por essa dedicação tão desinteressada - disse-lhe. - Agora, como eu não posso e você não quer fugir, devemos tapar o subterrâneo aberto por baixo da galeria. O soldado pode descobrir ao marchar, pela sonoridade dos seus passos, que o sítio está minado, chamar a atenção de um inspector e então seríamos descobertos e separados. Encarregue-se dessa tarefa, em que infelizmente não o posso ajudar. Trabalhe toda a noite, se for preciso, e só volte amanhã de manhã depois da visita do carcereiro. Terei uma coisa importante para lhe dizer.
Dantès pegou na mão do abade, que o tranquilizou com um sorriso, e saiu com a obediência e o respeito que votava ao seu velho amigo.