O Conde de Monte Cristo - Cap. 17: A cela do abade Pág. 141 / 1080

Mas assim que ele virou costas, assim que o ruído dos seus passos desapareceu na galeria, Dantès, devorado pela inquietação, retomou, sem pensar em comer, o caminho que acabara de percorrer e, levantando a laje com a cabeça voltou a entrar na cela do abade.

Este recuperara os sentidos, mas continuava estendido, inerte e sem forças, na cama.

- Já não esperava tornar a vê-lo - disse a Dantès.

- Porquê? - perguntou o rapaz. - Contava morrer?

- Não, mas como está tudo pronto para a fuga contava que fugisse.

O rubor da indignação coloriu as faces de Dantès.

- Sem o senhor?! gritou. - Julgou-me realmente capaz disso?

- Agora verifico que me enganei - declarou o doente. - Ah, estou muito fraco, muito quebrado, completamente exausto!

- Coragem, as suas forças voltarão - animou-o Dantès, sentando-se junto da cama de Faria e pegando-lhe nas mãos. O abade abanou a cabeça.

- Da última vez - disse - o ataque durou meia hora e depois dele tive fome e levantei-me sozinho. Hoje, não consigo mexer a perna nem o braço e tenho a cabeça nublada, o que prova um derramamento cerebral. À terceira vez ficarei inteiramente paralítico ou morrerei acto contínuo.

- Não, não, sossegue que não morrerá. Esse terceiro ataque, se o tiver, encontrá-lo-á livre. Salvá-lo-emos como desta vez, e melhor do que desta vez, pois teremos todos os meios necessários para isso.

- Meu amigo - redarguiu o velho -, não se iluda. A crise que acaba de me atacar condenou-me a prisão perpétua: para fugir é necessário poder andar.

- Pois bem, esperaremos oito dias, um mês, dois meses se for preciso. Entretanto, as suas forças voltarão. Está tudo preparado para a nossa fuga e temos a liberdade de poder escolher a hora e o momento. No dia em que se sentir com forças suficientes para nadar, nesse dia poremos o nosso projecto em prática.

- Nunca mais nadarei - redarguiu Faria. - Este braço está paralisado, não por um dia, mas sim para sempre. Levante-o você mesmo e veja o que pesa.

O rapaz levantou o braço, que voltou a cair, insensível, e soltou um suspiro.

- Está agora convencido, não é verdade, Edmond? - perguntou Faria. - Acredite que sei o que digo. Desde o meu primeiro ataque deste mal que não tenho deixado de reflectir. Esperava-o pois trata-se de uma herança de família: o meu pai morreu à terceira crise e o meu avô também. O médico que me preparou este licor, nem mais nem menos do que o famoso Cabanis, predisse-me o mesmo destino.

- O médico enganou-se! - contrapôs Dantès. - Quanto à sua paralisia, não me preocupa: pô-lo-ei às costas e nadarei segurando-o.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069