- Nesse caso, patrão, se o camarada diz a verdade, que o impede de ficar connosco? - perguntou o marinheiro que gritara «Coragem!» a Dantès.
- Sim, se diz a verdade... - respondeu o patrão, com ar de dúvida. - Mas no estado em que se encontra o pobre diabo toda a gente promete muito na mira de obter o que puder.
- Darei mais do que prometo - redarguiu Dantès.
- Oh, oh! - exclamou o patrão, rindo. - Veremos isso.
- Quando quiser - acrescentou Dantès, levantando-se. - Para onde vão?
- Para Liorne.
- Bom, nesse caso, em vez de andarem aos esses, o que lhes faz perder um tempo precioso, por que não cerram simplesmente o vento de bolina?
- Porque iríamos cair direitinhos na ilha de Rion
- Passariam, pelo contrário, a mais de vinte braças...
- Sendo assim - disse o patrão -, pegue no leme e mostre-nos a sua ciência.
O jovem foi sentar-se ao leme e assegurou-se por meio de uma leve pressão que o navio era obediente. E vendo que sem ser de primeira categoria não se recusava, comandou:
- Aos braços e às escotas! Os quatro marinheiros que formavam a tripulação correram para os seus postos, enquanto o patrão os observava.
- Icem! - continuou Dantès.
Os marinheiros obedeceram com bastante precisão.
- E agora, amarrem bem! Esta ordem foi executada como as duas primeiras e o naviozinho, em vez de continuar a bolinar, começou a rumar para a ilha de Rion, junto da qual passou, como predissera Dantès, deixando-a a estibordo, a uma vintena de braças.
- Bravo! - gritou o patrão.
- Bravo! - repetiram os marinheiros.
E todos olharam com admiração para aquele homem cujo olhar recuperara a inteligência e o corpo um vigor que se estaria longe de supor nele.
- Como vê - disse Dantès, largando o leme -, poderei ser-lhes de alguma utilidade, pelo menos durante a viagem. Se não quiserem mais nada comigo em Liorne, pois bem, deixar-me-ão lá. Prometo com os meus primeiros meses de soldo reembolsá-losda minha alimentação até lá e das roupas que me cederem.
- Está bem, está bem - disse o patrão. – Poderemos entender-nos se for razoável.
- Um homem vale um homem - declarou Dantès. - Dê-me o mesmo que dá aos camaradas e não se fala mais nisso.
- Não é justo - objectou o marinheiro que tirara Dantès do mar. - Você sabe mais do que nós.
- Por que diabo te metes nisto? Diz-te porventura respeito, Jacopo? - ralhou o patrão. - Cada um é livre de se contratar pelo salário que lhe convém.
- É justo - concordou Jacopo. - Foi uma simples observação da minha parte.
- De acordo, mas farias muito melhor se emprestasses a este valente rapaz, que está todo nu, umas calças e uma blusa, se ainda tens algumas de reserva.
- Não - respondeu Jacopo - mas tenho uma camisa e umas calças.
- É tudo de que preciso - declarou Dantès. - Obrigado, amigo.