O Conde de Monte Cristo - Cap. 21: A Ilha de Tiboulen Pág. 175 / 1080

- Nesse caso, patrão, se o camarada diz a verdade, que o impede de ficar connosco? - perguntou o marinheiro que gritara «Coragem!» a Dantès.

- Sim, se diz a verdade... - respondeu o patrão, com ar de dúvida. - Mas no estado em que se encontra o pobre diabo toda a gente promete muito na mira de obter o que puder.

- Darei mais do que prometo - redarguiu Dantès.

- Oh, oh! - exclamou o patrão, rindo. - Veremos isso.

- Quando quiser - acrescentou Dantès, levantando-se. - Para onde vão?

- Para Liorne.

- Bom, nesse caso, em vez de andarem aos esses, o que lhes faz perder um tempo precioso, por que não cerram simplesmente o vento de bolina?

- Porque iríamos cair direitinhos na ilha de Rion

- Passariam, pelo contrário, a mais de vinte braças...

- Sendo assim - disse o patrão -, pegue no leme e mostre-nos a sua ciência.

O jovem foi sentar-se ao leme e assegurou-se por meio de uma leve pressão que o navio era obediente. E vendo que sem ser de primeira categoria não se recusava, comandou:

- Aos braços e às escotas! Os quatro marinheiros que formavam a tripulação correram para os seus postos, enquanto o patrão os observava.

- Icem! - continuou Dantès.

Os marinheiros obedeceram com bastante precisão.

- E agora, amarrem bem! Esta ordem foi executada como as duas primeiras e o naviozinho, em vez de continuar a bolinar, começou a rumar para a ilha de Rion, junto da qual passou, como predissera Dantès, deixando-a a estibordo, a uma vintena de braças.

- Bravo! - gritou o patrão.

- Bravo! - repetiram os marinheiros.

E todos olharam com admiração para aquele homem cujo olhar recuperara a inteligência e o corpo um vigor que se estaria longe de supor nele.

- Como vê - disse Dantès, largando o leme -, poderei ser-lhes de alguma utilidade, pelo menos durante a viagem. Se não quiserem mais nada comigo em Liorne, pois bem, deixar-me-ão lá. Prometo com os meus primeiros meses de soldo reembolsá-losda minha alimentação até lá e das roupas que me cederem.

- Está bem, está bem - disse o patrão. – Poderemos entender-nos se for razoável.

- Um homem vale um homem - declarou Dantès. - Dê-me o mesmo que dá aos camaradas e não se fala mais nisso.

- Não é justo - objectou o marinheiro que tirara Dantès do mar. - Você sabe mais do que nós.

- Por que diabo te metes nisto? Diz-te porventura respeito, Jacopo? - ralhou o patrão. - Cada um é livre de se contratar pelo salário que lhe convém.

- É justo - concordou Jacopo. - Foi uma simples observação da minha parte.

- De acordo, mas farias muito melhor se emprestasses a este valente rapaz, que está todo nu, umas calças e uma blusa, se ainda tens algumas de reserva.

- Não - respondeu Jacopo - mas tenho uma camisa e umas calças.

- É tudo de que preciso - declarou Dantès. - Obrigado, amigo.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069